terça-feira, 29 de março de 2011

Tramaga e Vale de Açor revivem tempo forte

Em Março de 2010, as Comunidades da Tramaga e de Vale de Açor, no concelho de Ponte de Sor, experimentaram um tempo forte de Missão Popular. Além de encontros celebrativos e da presença de 2 equipas missionárias (2 sacerdotes, 2 religiosas e 2 leigas), ficaram a reunir, mensalmente, 4 assembleias familiares, em Vale de Açor e 7, na Tramaga.

De 19 a 27 deste mês, com a presença do P. José Alves e da leiga Arlete Vieira, (missionários que estiveram na Tramaga), as duas Comunidades reviveram essa experiência missionária. Do programa constou o encontro com os animadores das assembleias, a presença nos vários grupos de reflexão, a animação com crianças, adolescentes e jovens, a visita a doentes e idosos, em casa ou nos Centro Comunitários, uma Via-sacra pública, e algumas celebrações comunitárias, entre as quais a administração do Sacramento da Unção dos Doentes.
Em tempo de Quaresma, a Via-sacra trouxe à rua muitas pessoas que, a partir dos quadros preparados pelos moradores e dos textos propostos, reflectiram sobre a dimensão pascal da fé e do testemunho de vida que é exigido a todos os baptizados.
No encontro com os animadores, a reflexão versou sobre a caminhada feita, suas dificuldades. As Comunidades reuniram. A participação de mais de uma centena de pessoas a reflectir o tema “Os sacramentos que celebramos: exigências, desafios e possibilidades”, deu para entender a vivência destes grupos de vizinhança e que podemos contar com eles para a caminhada sinodal que a Diocese está a fazer.
É propósito destas assembleias continuar a manter este tempo mensal de encontro e de catequese. Esta experiência de “renovação” exigiu, uma vez mais, a todos e a cada um, o compromisso de cuidar e deixar crescer a semente que foi lançada com a Missão Popular.


P. Agostinho Sousa

sexta-feira, 25 de março de 2011

Missão ‘Ad Gentes’


Deixa a tua terra...

Deixar tudo e seguir...é perfeição’ diz o P. António Vieira num dos sermões sobre a Vida Consagrada. Mas, podemos ‘deixar tudo, seguir Cristo’ sem ‘devorar quilómetros’, como bem lembra D. Hélder Câmara num dos poemas mais bonitos que eu conheço sobre a Missão. A entrega radical de uma vida ao serviço dos outros (em especial dos mais pobres e excluídos) é característica comum a todos os consagrados, diria mesmo que é uma imagem de marca da identidade cristã. Mas o ‘deixar a terra’ (pedido feito a Abraão, cujo ‘sim’ mudou a história da humanidade) tem consequências muito próprias que definem a Missão ‘Ad Gentes’ lá fora das fronteiras da terra que nos viu nascer e crescer e que constituem o nosso cantinho de conforto e segurança.

Dos Homens e dos Deuses....


Vi três vezes e tenho organizado cine-fóruns a partir do filme ‘Dos Homens e dos Deuses’. Para quem o não viu (garanto que perdeu muito!), este filme tenta transmitir os últimos tempos de uma comunidade de Monges Trapistas no interior da Argélia, num contexto muçulmano, em tempo de luta aberta entre grupos extremistas e um governo corrupto. Eles foram quase todos assassinados, após receberem muitas ameaças e terem optado ficar com o povo até ao fim. Ora, a tomada de decisão de ‘partir’ ou ‘ficar scom o povo’, é um dos momentos fortes do filme. O que o povo e os monges vão dizendo mostram que a decisão de ‘deixar a terra’ tem consequências enormes. As pessoas são enviadas para contextos onde a cultura, a situação económica e social, a vivência dos direitos humanos até a religião podem ser muitos diferentes dos que viviam nas suas terras de origem. Esta situação exige muita força e muita flexibilidade (abertura) e muita coragem... ou melhor, exige uma Fé à prova de tudo. A decisão que os monges tomam de ficar com o povo (a determinada altura, uma senhora muçulmana diz a dois dos monges que o mosteiro para o povo é o ramo da árvore onde as pessoas são os pássaros: se os monges forem embora, o povo não tem onde poisar e se proteger!) é dura, dói muito mas mostra o sentido de uma consagração e de uma Missão fora de portas. A ousadia (que só a força do Espírito oferece) de partir e ficar quando todas as seguranças desapareceram e nos faltam os apoios das raízes, mostra a diferença entre o ‘estar fora e longe’ e o fazer missão ‘ao pé da porta’.

Fora da nossa área de conforto, sentimo-nos mais frágeis, mais humildes, mais dependentes dos outros. Como que a terra nos foge de debaixo dos pés. Em alguns contextos de pobreza e violência, sentimo-nos ameaçados e sem outra segurança que não seja a Deus. É a Fé que nos diz que o lugar mais seguro do mundo é aquele onde Deus nos quer e, aconteça o que acontecer, estamos onde devemos estar.

Leigos fora de portas...

O partilhar a vida do povo (à luz dos princípios propostos pelo Concílio Vaticano II, segundo os quais ‘as alegrias e tristezas, as angústias e esperanças’ das pessoas são as da Igreja), quando acontece fora de casa exige preparação, capacidade de encaixe e de sofrimento, abertura e dedicação extrema. É por isso que na formação de Missionários professos (Padres, irmãs e Irmãos de Institutos) e de Leigos (Voluntários Missionários) há que tomar muito a sério a avaliação do perfil de cada um(a), bem como uma preparação que ajude a dar raízes à capacidade de desenraizamento cultural, climático, eclesial e social. A Teologia da Missão (com uma grande insistência nas questões relativas á Inculturação e ao Diálogo Ecuménico e Inter-Religioso) constitui uma ajuda preciosa para quem parte.

A minha experiência...


A minha experiência missionária por terras de Angola durante a guerra civil foi muito semelhante à que os Monges Trapistas viveram por terras das montanhas do Atlas, no interior pobre e violento da Argélia. Há momentos em que temos que decidir entra a segurança de partir e o risco de ficar. Aconteceu-me. Nessa hora, os sentimentos estão confusos, pois o ‘partir’ salva a pele de quem foge, mas complica ainda mais a vida dos que ficam. Vi esse drama também muito bem retratado no filme ‘Hotel Rwanda’ sobre os tempos de genocídio que vitimaram milhões de pessoas na guerra entre Hutus e Tutsis. Ora, decidir a quente não dá bom resultado. Fugir (porque se é estrangeiro), piorando a situação dos que ficam (porque são nacionais) não faz qualquer sentido. Ficar foi a opção dos missionários estrangeiros no Huambo, como foi a dos Monges Trapistas na Argélia. Estes, pagaram quase todos com a morte a decisão de ficar com o povo, em nome de Deus. Os Missionários no Huambo tiveram sortes diferentes: uns morreram, outros ficaram feridos e a outros não aconteceu nada de muito grave, como foi o meu caso.

Tony Neves, missionário espiritano in Agência Ecclesia

terça-feira, 22 de março de 2011

Dia Nacional da Cáritas 2011

Mensagem do Presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social




Ao viver o dia Cáritas 2011, nesta hora agitada de multiplicadas carências e sôfrega de expressões solidárias, deixai que vos dirija uma mensagem breve, com os olhos no lema escolhido: “ser solidário, ser voluntário”

1.Antes de mais, desejo sublinhar neste lema o verbo ser. Mais do que actividades e iniciativas, organização e emergência, eventos e encontros, trata-se de ser solidário, de ser voluntário. Cultivar esta forma de ser, a partir de dentro, é atender à identidade marcante da Cáritas. As acções decorrem deste ser, atento ao fundamental para a plena dignidade de cada ser humano amado por Deus.
 
Em segundo lugar, importa verificar a unidade entre ser solidário e ser voluntário. Ser voluntário não aparece aqui como expressão técnica de quem oferece gratuitamente algum do seu tempo ao serviço dos outros em sectores diversos, segundo as competências e sensibilidades de cada um. Verdadeiramente, ser voluntário é a atitude cristã da forma de ser solidário. São duas faces unidas no mesmo rosto. Todo o exercício de solidariedade, mesmo organizada e até com recompensa salarial, para um cristão, assume a tonalidade de acção voluntária, isto é dedicada, humanizante e libertadora. Por outro lado, todo o voluntariado, mesmo limitado nas horas e circunscrito na acção, tenderá a ser expressão de autêntica solidariedade.
 
2. Caríssimos membros da Caritas, ao serdes solidários aproximai-vos com todo o amor das pessoas e suas situações, quebrai todas as barreiras para uma solidariedade plena e profunda. Aí experimentais como a vida solidária vos arranca da individualidade e vos faz entrar na escola dos voluntários do Amor, cujo único Mestre é Jesus Cristo. Ele amou os “seus” fazendo-os “seus”, ainda que inicialmente estivessem longe dele. Jesus amou até ao fim. Não estabeleceu horários, nem condições: fez-se servo de todos.
 
3. A proximidade da Páscoa conduz a uma vivência densa deste lema de 2011. Celebrar a Páscoa seja para cada um e cada uma de vós, meus amados irmãos e amadas irmãs, um“lavar as túnicas no sangue do Cordeiro” (Apoc. 7,14). Como recorda Bento XVI, no recente volume de Jesus (II, p. 56) isso significa purificar-se, deixar-se lavar, ser tocado interiormente pelo Espírito de Deus e transformar-se numcoração que vê, escuta, atende, abre-se ao outro em dom.
 
Viver de modo solidário é para o cristão ir até à disponibilidade desacrificar a própria vida pelo outro, radicado no fundamento de viver em Cristo. Se mergulharmos na misericórdia do amor do Senhor Jesus também encontraremos os modos adequados de viver do dom de Deus na nossa pobre carne.
Entregar-se a esta tarefa em Igreja, com sentido comunitário, irmana-nos com todos os solidários e voluntários, inspirados e integrados em vários movimentos e instituiçõesSer Caritas é integrar todos os esforços provindos de diversos lugares e animá-los em serviço eficaz.
 
Neste ano do voluntariado, abri a vossa acção a novas pessoas, integrai novos membros. Gerai comunhão entre todos os que trabalham na rede de um voluntariado social, com alegria e esperança por ver o amor de Deus chegar aos aflitos e frágeis, aos feridos e pobres, através da beleza de tantas entregas!
 
Lisboa, 19 de Março de 2011
+ Carlos A. Moreira Azevedo
Presidente da Comissão Episcopal de Pastoral Social

domingo, 20 de março de 2011

João Paulo II: Bispos portugueses lembram «Papa de Fátima»



Conferência Episcopal publica Nota Pastoral sobre a beatificação de Karol Wojtyla



A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) divulgou uma Nota Pastoral sobre a beatificação de João Paulo II (1920-2005), marcada para 1 de Maio, falando do futuro beato como o “Papa de Fátima”.

“É considerado o Papa de Fátima, que um ano depois do atentado na Praça de S. Pedro, em Roma, a 13 de Maio de 1981, veio à Cova da Iria agradecer à Rainha da Paz o ter providencialmente sobrevivido”, assinalam os bispos, a respeito de Karol Wojtyla, eleito Papa em Outubro de 1978.

Em destaque vai estar a celebração nacional marcada para o dia 13 de Maio, no Santuário de Fátima, tendo a CEP convidado os fiéis a “associarem se à comemoração”.

Após a sua eleição como Papa, João Paulo II esteve no Santuário de Fátima em 1982, 1991 e, pela última vez, em 2000, altura em que beatificou os videntes Francisco e Jacinta Marto. Qualificando a vida do Papa polaco como um “sinal de esperança”, o documento da CEP, em cinco pontos, afirma que esta beatificação é “um chamamento e uma oferta que a Igreja faz a todos os homens e mulheres de boa vontade”.

A nota episcopal explica que “a beatificação de alguém é a celebração agradecida pela vida e testemunho cristãos de um homem ou de uma mulher, proclamando a sua virtude e oficializando o seu culto público”. “Reconhecido o seu alto grau de santidade, isto é, provadas as suas «virtudes heróicas» e confirmadas por um milagre, a pessoa beatificada é proposta à veneração dos crentes como modelo, estímulo e intercessora junto de Deus”, acrescenta o documento.
Segundo a CEP, “ao beatificar João Paulo II, a Igreja está a sublinhar certos traços de uma santidade particular, considerando que não só merece ser conhecida e admirada, como pode ser luz que guia e estimula a prosseguir nos caminhos da conversão ao amor de Deus e do serviço aos homens e mulheres” de hoje.

A Nota Pastoral elenca “grandes traços da personalidade e da missão do Papa João Paulo II”, apresentado como um “homem de intensa vida interior” com uma “invulgar capacidade de comunicação pessoal, tanto diante das multidões, como em particular, atraindo magneticamente tantos jovens, entre os quais muitos que se afirmavam estar distantes da Igreja”.
A este respeito, cita-se um episódio acontecido a 15 de Maio de 1982, em Coimbra, quando o Papa Wojtyla “não hesitou em pôr aos ombros a capa preta que um estudante lhe ofereceu e, no pátio da Universidade, gritou à multidão: «Olá, malta! O Papa conta convosco! Melhor, Cristo conta convosco!» ”.
O futuro beato é ainda visto como um “profeta de audazes intervenções em nome da justiça e da paz”, destacando-se o seu papel “na queda de regimes comunistas totalitários, na promoção dos direitos humanos e na defesa da vida e dos valores morais”.

João Paulo II foi, para os bispos portugueses, um “servidor do amor e ternura pelos mais fracos e do perdão aos inimigos” e uma “testemunha da alegria na saúde e na doença, com máximo respeito pela vida”.
“Lutou até ao fim sem desistir de estar presente para comunicar a fé, a certeza do amor de Deus, em todas as circunstâncias, mesmo naquelas que o mundo já não quer ver ou a que retirou a dignidade”, refere a nota da CEP.

Milhões de pessoas são esperadas na cerimónia de beatificação que vai ter lugar no Vaticano a 1 de Maio, sob a presidência de Bento XVI.

Ecclesia - Octávio do Carmo

«Assim como o Pai me enviou, também Eu vos envio a vós» (Jo 20, 21)

Já foi publicada, com data da Festa da Epifania, a mensagem de Bento XVI para o Dia Mundial das Missões 2011, que se realizará em 23 de outubro próximo.

O Papa reitera na mensagem que a evangelização é uma dimensão essencial da Igreja e uma tarefa urgente hoje, pois a secularização faz com que muitas pessoas vivam como se Deus não existisse.
"O Evangelho não é uma propriedade exclusiva de quem o recebeu, mas um dom a ser partilhado e comunicado" – sublinha o Papa, reiterando que todo baptizado é chamado a levar a todos a Boa Nova do Evangelho.

Bento XVI ressalta que aumenta o número de pessoas que tendo recebido o anúncio do Evangelho o esqueceram e abandonaram. "Esta em andamento uma mudança cultural, alimentada pela globalização e pelo relativismo, uma mudança que leva a um estilo de vida que exclui a mensagem do Evangelho e exalta a busca do bem-estar, do dinheiro fácil, da carreira e do sucesso como objectivo de vida, mesmo em detrimento dos valores morais" – disse ainda o Papa.
O Santo Padre convida os fiéis a responderem à vocação missionária resposta essencial para a vida da Igreja. "A obra evangelizadora é essencial para a Igreja e não pode ser considerada simplesmente como uma das várias actividades pastorais" – sublinha Bento XVI.

Referindo-se a Paulo VI, a mensagem ressalta que a animação missionária dá uma atenção particular à solidariedade. "É inaceitável que a evangelização transcure as questões relativas à promoção humana, justiça e libertação de todas as formas de opressão, obviamente, respeitando a autonomia da esfera política. Ignorar os problemas temporais da humanidade significa esquecer a lição que vem do Evangelho sobre o amor ao próximo que está sofrendo" – frisa Bento XVI.

O Dia Mundial das Missões "é um chamado a revigorar em cada pessoa o desejo e a alegria de ir ao encontro da humanidade levando a todos, Cristo" – conclui a mensagem.

(MJ)

sexta-feira, 18 de março de 2011

Missão nas Paróquias Franciscanas do Vale de Chelas



O bispo auxiliar de Lisboa, D. Joaquim Mendes, deu o tom à Semana Missionária, de 12 a 20 de Fevereiro, convidando a todos abrir portas e janelas para deixar entrar o vento do Espírito e para que todos saíssem á rua a anunciar Cristo.

Para isso, D. Joaquim evocou a visita de Bento XVI a Portugal e a recente Carta Pastoral dos Bispos sobre o rosto missionário da Igreja.

A Semana contou com a distribuição de mensagens bíblicas e debate com os alunos da Escola Secundária D. Dinis, onde se falou de Voluntariado e Missão para jovens.

Os idosos dos centros de dia reuniram-se para uma tarde de convívio missionário, festa que culminou com a Eucaristia. O mundo esteve quase todo ali, com testemunhos de Angola, Moçambique, Índia, Itália e Portugal.

Em outra acção, os missionários acompanharam as Irmãzinhas de Jesus, as Irmãs da Caridade de Madre Teresa e alguns Ministros da Comunhão na visita a famílias e doentes.

Antes do fim-de-semana, tivemos o encontro das pessoas para formação, sensibilização missionária, testemunho e oração.

As crianças tiveram a sua festa missionária no sábado, convertendo o habitual tempo de catequese num «ateliê» missionário muito dinâmico e participado.

Na hora da partida dos missionários de fora, ficou o desafio lançado aos missionários de dentro, ou seja, a todos: a Missão não pára e tem de ser uma paixão.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Vinde & Vede

NOTA DE ABERTURA
Depois de alguma reflexão tanto no Conselho Pastoral Diocesano como no Conselho Presbiteral últimos, o Secretariado Diocesano das Comunicações Sociais decidiu aproveitar este início de quaresma para fazer chegar a todas as paróquias e movimentos diocesanos bem como a pessoas singulares que o desejem, uma folha mensal que possa ser um elo de ligação entre toda a Igreja Diocesana num desafio à experiência de "Unidos em Igreja" em continuidade ao projecto de Jesus em Jo. 1,35 - 42: "Vinde e Vede".

Este elo de ligação pretende chegar a todos os párocos e diáconos bem como aos movimentos e aos leigos através dum simples "clique cibernautico".

Para isso basta que os interessados façam chegar ao secretariado os seus dados pessoais e o respectivo email.

Neste 1º número, solicitamos aos párocos que façam a divulgação entre os seus paroquianos.

Que o Senhor nos dê perseverança!

P. Luís Manuel


A folha de Março - Aqui -
Também  publicado em - Diocese Portalegre-Castelo Branco  



domingo, 13 de março de 2011

Mãos à obra Sínodo diocesano abrirá a 5 de Outubro, na Sé de Portalegre

1. A preparação do Sínodo que avança
No período de preparação do Sínodo Diocesano, a nossa Igreja vai fazendo caminho. O programa deste Ano Pastoral convida-nos a reflectir a partir da pergunta fundamental: “Igreja Diocesana, que dizes de ti mesma?” Os grupos paroquiais de reflexão dos temas do guião vão-se deixando penetrar do espírito de renovação necessária e de comunhão mais concretizada. O Senhor Bispo terminará nos meados de Abril próximo a sua Visita Pastoral a todas as paróquias da nossa Diocese (161, no total), depois da sua chegada aqui, em Outubro de 2008, criando comunhão, descobrindo e apontando os sinais de Deus nas pessoas. A Comissão designada para o efeito tem preparado os caminhos do Sínodo, a percorrer pelos cristãos da nossa Igreja. O Conselho Pastoral e o Conselho Presbiteral renovaram, nas reuniões de Fevereiro, a sua adesão às propostas imediatas de caminhada sinodal.
Bem sabemos que o Sínodo diocesano é, antes de mais, obra de Deus; mas também é obra nossa, pois é através de nós que, interpretando os sinais da presença d’Ele entre nós, lhe darmos forma e concretização. A oração, o trabalho de cada um e o de todos são indispensáveis.

2. Sínodo, experiência da Igreja que somos
O Sínodo, em todas as suas fases, tem de possibilitar e ser experiência de Igreja, que procura e quer ser fiel à missão que Cristo lhe confia, hoje. O Sínodo é obra da Igreja, mas é obra de Deus também. Deus é chamado a intervir por vontade desta Igreja que somos, desta igreja concreta, com inquietações precisas, com dúvidas e hesitações, mas também com certezas e convicções. Deus continua a falar-nos através de sinais, na sua Igreja e no mundo dos homens a que é enviada, hoje.
Por um lado, o Sínodo requer avaliação do que a nossa Igreja tem feito e faz, isto é, dos seus programas, dos meios utilizados, isto é, dos seus agentes sobretudo, dos resultados obtidos, isto é, da sua eficácia, mas também da fidelidade à missão; por outro lado, convidamos a priorizar o que há que fazer de modo diferente, a buscar os instrumentos mais adequados de trabalho, sobretudo a classificar os cristãos como cristãos, a olhar e a amar o mundo de hoje, porque Deus continua a amá-lo e Cristo dá por ele a vida.
Sínodo quer dizer também Igreja que se quer renovada, através de uma conversão interior sincera. Esta conversão, em contexto eclesial, tem expressões visíveis no trabalho comum: passagem de atitudes meramente passivas, sempre à espera de que sejam os outros a começar, para comportamentos activos, com iniciativa pessoal e congregadora; passagem da acção individualista ou gregária para acções mais comunitárias; passagem da crítica de quem se coloca ‘de fora’, para a apresentação de propostas mobilizadoras, colocando-se ‘dentro’; passagem de desânimo estiolante face às dificuldades para o empenho convicto; passagem da resistência ao que é novo e conhecido para a ousadia da surpresa; passagem da pastoral de manutenção para a pastoral missionária.

3. Trabalhos imediatos comuns

- O desdobrável sobre o Sínodo - Responde a várias perguntas iniciais. Começou já a ser distribuído nas paróquias. Os párocos e os leigos disponíveis para o efeito, divulgá-lo-ão e explicá-lo-ão, tendo em vista a informação e a mobilização do maior número.

- O inquérito por questionário - O seu conteúdo e importância será explicado pelos membros da Comissão pré-sinodal, em encontros de âmbito arciprestal, aos párocos e leigos convidados, entre 11 e 12 de Março. Estes, párocos e leigos, explicarão o seu conteúdo e importância - selecção de assuntos a tratar no Sínodo - a grupos nas paróquias. Durante o mês de Maio, será distribuído e explicado a todos, preenchido por quem quiser, devolvido à Comissão pré-sinodal, que, em Junho, tratará os dados recolhidos e, em diálogo com o Senhor Bispo, seleccionárá os assuntos a reflectir, nos grupos sinodais.

- Grupos sinodais - Até ao final de Setembro, serão constituídos os grupos sinodais nas paróquias. Os grupos de reflexão existentes, com experiência de vários anos, poderão continuar ou ser renovados; poderão ser constituídos novos grupos, de outra ordem. Nos grupos sinodais serão reflectidos os assuntos seleccionados, a partir do inquérito, e deles sairão os representantes que tomarão parte nas Assembleias Sinodais. Destes trabalhos dependem os frutos do Sínodo!

P. Bonifácio Bernardo

quarta-feira, 9 de março de 2011

Mensagem de D.Antonino Dias, para a Quaresma 2011

Vivendo a Quaresma,
Ajudemos dois jovens dependentes


O Santo Padre Bento XVI convida-nos a ligar “o Baptismo com a Quaresma como momento favorável para experimentar a Graça que salva”. Gostaria que a sua Mensagem fosse distribuída nas comunidades e servisse de pano de fundo, pretexto e estímulo para as catequeses quaresmais aos fiéis da nossa Diocese. Catequeses positivas e doutrinais. São muitos os baptizados que não praticam. É grande a falta de catequese sobre este Sacramento em muitos daqueles que frequentam a Igreja. Abundam os problemas pastorais por falta de esclarecimento e formação. Por isso, não faltam temas a abordar e reflexão a fazer.

A Igreja celebra e administra o Baptismo desde o dia do Pentecostes. “Irmãos, que devemos fazer?”, perguntaram os ouvintes de Pedro, galvanizados pela eloquência do seu discurso em que denunciava, de forma vigorosa e convincente, a injustiça da crucifixão de Jesus, que Deus ressuscitara, tornando-O Senhor e Cristo. E Pedro responde: “Convertei-vos e peça cada um de vós o Baptismo em nome de Jesus Cristo, para vos serem perdoados os pecados. Recebereis então o dom do Espírito Santo” (Act 2, 38). Pedro denuncia a tragédia da morte de Cristo e anuncia a Boa Nova da sua Ressurreição. A sua Palavra é acolhida e acreditam em Jesus Cristo. Convertem-se e professam a fé. Recebem o Baptismo e o dom do Espírito Santo. Têm acesso à Eucaristia e Cristo passa a ser o centro da sua vida pessoal. Juntos, frequentam o templo e a Fracção do Pão (Eucaristia). Louvam a Deus e partilham os seus bens. Geram simpatia, são amados pelo povo e todos os dias o Senhor acrescenta à comunidade outras pessoas que aceitam a salvação (cf. Act 46, 47).

AGRADECER E VIVER EM FIDELIDADE

A Constituição sobre a Sagrada Liturgia lembra-nos que “Pelo baptismo são os homens inseridos no mistério pascal de Cristo: mortos com Ele, sepultados com Ele, com Ele ressuscitados; recebem o espírito de adopção filial que “nos faz clamar: Abba, Pai” (Rom 8, 15), transformando-se assim nos verdadeiros adoradores que o Pai procura”(SC 6). Por mais longa que seja a nossa vida, é sempre muito curta para agradecermos a Graça do Baptismo, percebermos os seus efeitos e aceitarmos as suas consequências.
A Quaresma convida-nos, pois, a avivar a riqueza do nosso Baptismo e a sermos fiéis à Graça de Deus. Como refere Bento XVI, o nosso imergir “na morte e ressurreição de Cristo através do sacramento do Baptismo, estimula-nos todos os dias a libertar o nosso coração das coisas materiais, de um vínculo egoísta com a “terra”, que nos empobrece e nos impede de estar disponíveis e abertos a Deus e ao próximo”.

PALAVRA E ORAÇÃO, JEJUM E PARTILHA

O Santo Padre recorda-nos, também ele, a necessidade das práticas antigas, sempre actuais, que constituem o material a que temos de deitar mão no itinerário quaresmal. Assim, tal caminhada não pode dispensar a escuta e o acolhimento da PALAVRA DE DEUS que “alimenta o caminho da fé que iniciámos no dia do Baptismo”; o JEJUM que “tornando mais pobre a nossa mesa” nos ensina “a superar o egoísmo para viver na lógica da doação e do amor”; a PARTILHA que “é uma chamada à primazia de Deus e à atenção para com o próximo, para redescobrir o nosso Pai bom e receber a sua misericórdia”; a ORAÇÃO, “para entrar naquela comunhão íntima com Deus que ninguém nos poderá tirar e que nos abre à esperança que não desilude”. A Quaresma “educa para viver de modo cada vez mais radical o amor de Cristo”, leva-nos a “redescobrir o nosso Baptismo”, a fazer “uma conversão profunda da nossa vida”, a “deixar-se transformar pela acção do Espírito Santo”, a “orientar com decisão a nossa existência segundo a vontade de Deus”, a “libertar-nos do nosso egoísmo, superando o instinto de domínio sobre os outros e abrindo-nos à caridade de Cristo”, a “reconhecer a nossa debilidade, acolher, com uma sincera revisão de vida, a Graça renovadora do Sacramento da Penitência e caminhar com decisão para Cristo”. Deixando-nos perdoar, aprendemos também “a perdoar aos outros; reconhecendo a minha miséria, também me torno mais tolerante e compreensivo com as fraquezas do próximo”.

SACRAMENTO DA RECONCILIAÇÃO

Apelando aos Sacerdotes para que dêem o melhor do seu tempo ao atendimento das pessoas no Sacramento da Confissão, recordo, para todos nós, o que dizia o Cardeal Arcebispo de Colónia numa conferência sobre conversão e missão: “Ter negligenciado o Sacramento da Penitência é a raiz de muitos males na vida da Igreja e na vida do sacerdote. E a chamada crise do Sacramento da Penitência não se deve apenas ao facto de as pessoas terem deixado de se confessar, mas também ao facto de nós, sacerdotes, já não estarmos presentes no confessionário. Um confessionário em que um sacerdote está presente, numa igreja vazia, é o símbolo mais tocante da paciência de Deus que espera. É assim que é Deus. Ele nos espera a vida inteira”.
Os próprios confessionários, que muitas igrejas, em nome da estética, esconderam ou deitaram fora, deixaram eles mesmos de ser um sinal catequético, pedagógico e interpelativo. Gostaria que, mesmo assim, alguns a darem nas vistas porque inestéticos, regressassem aos seus lugares como, aliás, a Igreja nos manda, para serem utilizados dentro da liberdade de escolha dos filhos de Deus (cân. 964). São sinais. A conversão também passará por aí.

VAMOS AJUDAR DOIS JOVENS

Para além da presença da Cáritas Diocesana junto de famílias do Concelho da Sertã que foram atingidas pelo vendaval passado, este ano destinaremos também a nossa partilha diocesana (Renúncia Quaresmal) – através da Cáritas Diocesana - para criar condições habitacionais para dois jovens que, por acidentes, ficaram totalmente dependentes. Visitei-os em suas casas na Visita Pastoral. Se a sua situação física não é boa, é grande a sua força de viver. Pior se torna a sua qualidade de vida pelas condições do espaço em que vivem. Um é do concelho de Proença-a-Nova. Outro, do concelho de Portalegre. A ajuda a prestar é vária, desde a oferta do possível estudo e projecto, aos materiais e mão-de-obra. Vamos ajudar com a nossa partilha, sentindo-nos irmãos e solidários em Cristo Jesus que “passou pelo mundo fazendo o bem”.


+Antonino Dias
Bispo de Portalegre-Castelo Branco
04/03/2011

segunda-feira, 7 de março de 2011

Mensagem de Bento XVI para a Quaresma 2011




«Sepultados com Ele no baptismo,
foi também com Ele que ressuscitastes» (cf. Cl 2, 12)

Amados irmãos e irmãs!


Quaresma, que nos conduz à celebração da Santa Páscoa, é para a Igreja um tempo litúrgico muito precioso e importante, em vista do qual me sinto feliz por dirigir uma palavra específica para que seja vivido com o devido empenho. Enquanto olha para o encontro definitivo com o seu Esposo na Páscoa eterna, a Comunidade eclesial, assídua na oração e na caridade laboriosa, intensifica o seu caminho de purificação no espírito, para haurir com mais abundância do Mistério da redenção a vida nova em Cristo Senhor (cf. Prefácio I deQuaresma).


1. Esta mesma vida já nos foi transmitida no dia do nosso Baptismo, quando, «tendo-nos tornado partícipes da morte e ressurreição de Cristo» iniciou para nós «a aventura jubilosa e exaltante do discípulo» (Homilia na Festa do Baptismo do Senhor, 10 de Janeiro de 2010). São Paulo, nas suas Cartas, insiste repetidas vezes sobre a singular comunhão com o Filho de Deus realizada neste lavacro. O facto que na maioria dos casos o Baptismo se recebe quando somos crianças põe em evidência que se trata de um dom de Deus: ninguém merece a vida eterna com as próprias forças. A misericórdia de Deus, que lava do pecado e permite viver na própria existência «os mesmos sentimentos de Jesus Cristo» (Fl 2, 5), é comunicada gratuitamente ao homem.

O Apóstolo dos gentios, na Carta aos Filipenses, expressa o sentido da transformação que se realiza com a participação na morte e ressurreição de Cristo, indicando a meta: que assim eu possa «conhecê-Lo, a Ele, à força da sua Ressurreição e à comunhão nos Seus sofrimentos, configurando-me à Sua morte, para ver se posso chegar à ressurreição dos mortos» (Fl 3, 1011). O Baptismo, portanto, não é um rito do passado, mas o encontro com Cristo que informa toda a existência do baptizado, doa-lhe a vida divina e chama-o a uma conversão sincera, iniciada e apoiada pela Graça, que o leve a alcançar a estatura adulta de Cristo.

Um vínculo particular liga o Baptismo com a Quaresma como momento favorável para experimentar a Graça que salva. Os Padres do Concílio Vaticano II convidaram todos os Pastores da Igreja a utilizar «mais abundantemente os elementos baptismais próprios da liturgia quaresmal» (Const. Sacrosanctum Concilium, 109). De facto, desde sempre a Igreja associa a Vigília Pascal à celebração do Baptismo: neste Sacramento realiza-se aquele grande mistério pelo qual o homem morre para o pecado, é tornado partícipe da vida nova em Cristo Ressuscitado e recebe o mesmo Espírito de Deus que ressuscitou Jesus dos mortos (cf. Rm 8, 11). Este dom gratuito deve ser reavivado sempre em cada um de nós e a Quaresma oferece-nos um percurso análogo ao catecumenato, que para os cristãos da Igreja antiga, assim como também para os catecúmenos de hoje, é uma escola insubstituível de fé e de vida cristã: deveras eles vivem o Baptismo como um acto decisivo para toda a sua existência.

2. Para empreender seriamente o caminho rumo à Páscoa e nos prepararmos para celebrar a Ressurreição do Senhor – a festa mais jubilosa e solene de todo o Ano litúrgico – o que pode haver de mais adequado do que deixar-nos conduzir pela Palavra de Deus? Por isso a Igreja, nos textos evangélicos dos domingos de Quaresma, guia-nos para um encontro particularmente intenso com o Senhor, fazendo-nos repercorrer as etapas do caminho da iniciação cristã: para os catecúmenos, na perspectiva de receber o Sacramento do renascimento, para quem é baptizado, em vista de novos e decisivos passos no seguimento de Cristo e na doação total a Ele.

O primeiro domingo do itinerário quaresmal evidencia a nossa condição do homens nesta terra. O combate vitorioso contra as tentações, que dá início à missão de Jesus, é um convite a tomar consciência da própria fragilidade para acolher a Graça que liberta do pecado e infunde nova força em Cristo, caminho, verdade e vida (cf. Ordo Initiationis Christianae Adultorum, n. 25). É uma clara chamada a recordar como a fé cristã implica, a exemplo de Jesus e em união com Ele, uma luta «contra os dominadores deste mundo tenebroso» (Ef 6, 12), no qual o diabo é activo e não se cansa, nem sequer hoje, de tentar o homem que deseja aproximar-se do Senhor: Cristo disso sai vitorioso, para abrir também o nosso coração à esperança e guiar-nos na vitória às seduções do mal.

O Evangelho da Transfiguração do Senhor põe diante dos nossos olhos a glória de Cristo, que antecipa a ressurreição e que anuncia a divinização do homem. A comunidade cristã toma consciência de ser conduzida, como os apóstolos Pedro, Tiago e João, «em particular, a um alto monte» (Mt 17, 1), para acolher de novo em Cristo, como filhos no Filho, o dom da Graça deDeus: «Este é o Meu Filho muito amado: n’Ele pus todo o Meu enlevo. Escutai-O» (v. 5). É o convite a distanciar-se dos boatos da vida quotidiana para se imergir na presença de Deus: Ele quer transmitir-nos, todos os dias, uma Palavra que penetra nas profundezas do nosso espírito, onde discerne o bem e o mal (cf. Hb 4, 12) e reforça a vontade de seguir o Senhor.

O pedido de Jesus à Samaritana: «Dá-Me de beber» (Jo 4, 7), que é proposto na liturgia do terceiro domingo, exprime a paixão de Deus por todos os homens e quer suscitar no nosso coração o desejo do dom da «água a jorrar para a vida eterna» (v. 14): é o dom do espírito Santo, que faz dos cristãos «verdadeiros adoradores» capazes de rezar ao Pai «em espírito e verdade» (v. 23). Só esta água pode extinguir a nossa sede do bem, da verdade e da beleza! Só esta água, que nos foi doada pelo Filho, irriga os desertos da alma inquieta e insatisfeita, «enquanto não repousar em Deus», segundo as célebres palavras de Santo Agostinho.



O domingo do cego de nascença apresenta Cristo como luz do mundo. O Evangelho interpela cada um de nós: «Tu crês no Filho do Homem?». «Creio, Senhor» (Jo 9, 35.38), afirma com alegria o cego de nascença, fazendo-se voz de todos os crentes. O milagre da cura é o sinal que Cristo, juntamente com a vista, quer abrir o nosso olhar interior, para que a nossa fé se torne cada vez mais profunda e possamos reconhecer n’Ele o nosso único Salvador. Ele ilumina todas as obscuridades da vida e leva o homem a viver como «filho da luz».

Quando, no quinto domingo, nos é proclamada a ressurreição de Lázaro, somos postos diante do último mistério da nossa existência: «Eu sou a ressurreição e a vida... Crês tu isto?» (Jo 11, 25-26). Para a comunidade cristã é o momento de depor com sinceridade, juntamente com Marta, toda a esperança em Jesus de Nazaré: «Sim, Senhor, creio que Tu és o Cristo, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo» (v. 27). A comunhão com Cristo nesta vida prepara-nos para superar o limite da morte, para viver sem fim n’Ele. A fé na ressurreição dos mortos e a esperança da vida eterna abrem o nosso olhar para o sentido derradeiro da nossa existência: Deus criou o homem para a ressurreição e para a vida, e esta verdade doa a dimensão autêntica e definitiva à história dos homens, à sua existência pessoal e ao seu viver social, à cultura, à política, à economia. Privado da luz da fé todo o universo acaba por se fechar num sepulcro sem futuro, sem esperança.

O percurso quaresmal encontra o seu cumprimento no Tríduo Pascal, particularmente na Grande Vigília na Noite Santa: renovando as promessas baptismais, reafirmamos que Cristo é o Senhor da nossa vida, daquela vida que Deus nos comunicou quando renascemos «da água e do Espírito Santo», e reconfirmamos o nosso firme compromisso em corresponder à acção da Graça para sermos seus discípulos.

3. O nosso imergir-nos na morte e ressurreição de Cristo através do Sacramento do Baptismo, estimula-nos todos os dias a libertar o nosso coração das coisas materiais, de um vínculo egoísta com a «terra», que nos empobrece e nos impede de estar disponíveis e abertos a Deus e ao próximo. Em Cristo, Deus revelou-se como Amor (cf 1 Jo 4, 7-10). A Cruz de Cristo, a «palavra da Cruz» manifesta o poder salvífico de Deus (cf. 1 Cor 1, 18), que se doa para elevar o homem e dar-lhe a salvação: amor na sua forma mais radical (cf. Enc. Deus caritas est, 12). Através das práticas tradicionais do jejum, da esmola e da oração, expressões do empenho de conversão, a Quaresma educa para viver de modo cada vez mais radical o amor de Cristo. O Jejum, que pode ter diversas motivações, adquire para o cristão um significado profundamente religioso: tornando mais pobre a nossa mesa aprendemos a superar o egoísmo para viver na lógica da doação e do amor; suportando as privações de algumas coisas – e não só do supérfluo – aprendemos a desviar o olhar do nosso «eu», para descobrir Alguém ao nosso lado e reconhecer Deus nos rostos de tantos irmãos nossos. Para o cristão o jejum nada tem de intimista, mas abre em maior medida para Deus e para as necessidades dos homens, e faz com que o amor a Deus seja também amor ao próximo (cf. Mc 12, 31).

No nosso caminho encontramo-nos perante a tentação do ter, da avidez do dinheiro, que insidia a primazia de Deus na nossa vida. A cupidez da posse provoca violência, prevaricação e morte: por isso a Igreja, especialmente no tempo quaresmal, convida à prática da esmola, ou seja, à capacidade de partilha. A idolatria dos bens, ao contrário, não só afasta do outro, mas despoja o homem, torna-o infeliz, engana-o, ilude-o sem realizar aquilo que promete, porque coloca as coisas materiais no lugar de Deus, única fonte da vida. Como compreender a bondade paterna de Deus se o coração está cheio de si e dos próprios projectos, com os quais nos iludimos de poder garantir o futuro? A tentação é a de pensar, como o rico da parábola: «Alma, tens muitos bens em depósito para muitos anos...». «Insensato! Nesta mesma noite, pedir-te-ão a tua alma...» (Lc 12, 19-20). A prática da esmola é uma chamada à primazia de Deus e à atenção para com o próximo, para redescobrir o nosso Pai bom e receber a sua misericórdia.


Em todo o período quaresmal, a Igreja oferece-nos com particular abundância a Palavra de Deus. Meditando-a e interiorizando-a para a viver quotidianamente, aprendemos uma forma preciosa e insubstituível de oração, porque a escuta atenta de Deus, que continua a falar ao nosso coração, alimenta o caminho de fé que iniciámos no dia do Baptismo. A oração permitenos também adquirir uma nova concepção do tempo: de facto, sem a perspectiva da eternidade e da transcendência ele cadencia simplesmente os nossos passos rumo a um horizonte que não tem futuro. Ao contrário, na oração encontramos tempo para Deus, para conhecer que «as suas palavras não passarão» (cf. Mc 13, 31), para entrar naquela comunhão íntima com Ele «que ninguém nos poderá tirar» (cf. Jo 16, 22) e que nos abre à esperança que não desilude, à vida eterna.

Em síntese, o itinerário quaresmal, no qual somos convidados a contemplar o Mistério da Cruz, é «fazer-se conformes com a morte de Cristo» (Fl 3, 10), para realizar uma conversão profunda da nossa vida: deixar-se transformar pela acção do Espírito Santo, como São Paulo no caminho de Damasco; orientar com decisão a nossa existência segundo a vontade de Deus; libertar-nos do nosso egoísmo, superando o instinto de domínio sobre os outros e abrindo-nos à caridade de Cristo. O período quaresmal é momento favorável para reconhecer a nossa debilidade, acolher, com uma sincera revisão de vida, a Graça renovadora do Sacramento da Penitência e caminhar com decisão para Cristo.

Queridos irmãos e irmãs, mediante o encontro pessoal com o nosso Redentor e através do jejum, da esmola e da oração, o caminho de conversão rumo à Páscoa leva-nos a redescobrir o nosso Baptismo. Renovemos nesta Quaresma o acolhimento da Graça que Deus nos concedeu naquele momento, para que ilumine e guie todas as nossas acções. Tudo o que o Sacramento significa e realiza, somos chamados a vivê-lo todos os dias num seguimento de Cristo cada vez mais generoso e autêntico. Neste nosso itinerário, confiemo-nos à Virgem Maria, que gerou o Verbo de Deus na fé e na carne, para nos imergir como ela na morte e ressurreição do seu Filho Jesus e ter a vida eterna.

Vaticano, 4 de Novembro de 2010

BENEDICTUS PP. XVI