Entrevistas



“Só com pessoas renovadas se renova a Igreja diocesana” 

SM - A 5 de Outubro será aberto oficialmente o Sínodo Diocesano. O que é um Sínodo Diocesano e para que serve?

Cónego Bonifácio - É verdade. Finalmente, o IV Sínodo Diocesano será oficialmente convocado pelo nosso Bispo, D. Antonino Dias, no próximo dia 05 de Outubro, em Portalegre.
‘Sínodo’ quer dizer ‘caminhada com’ outros, unidos e mobilizados, com um ponto de partida e também com uma meta a alcançar. Quando se fala de ‘Sínodo Diocesano’, referimo-nos a uma ‘caminhada’ dos cristãos de uma diocese, com o seu Bispo à frente. Trata-se de uma ‘caminhada’ de reflexão e de estudo, de avaliação do desempenho, de projecto e de acção, agora e aqui.
No cumprimento da missão que lhe é própria, o Senhor Bispo é ajudado por vários Conselhos, que reúnem regularmente. Por exemplo: o Conselho diocesano para os assuntos económicos (Bispo, Padres e Leigos); o Conselho Pastoral diocesano (Bispo, Padres e Leigos); o Conselho Presbiteral (Bispo e Padres); o Colégio de Consultores (Bispo e Padres). E recorre ainda a outros órgãos de âmbito diocesano: Cúria Diocesana e Cabido, por exemplo.
No mesmo contexto, o Bispo pode convocar o Sínodo Diocesano, que é uma espécie de Conselho alargado, que reúne de forma extraordinária, e em cujas Assembleias Sinodais participam algumas centenas de pessoas (Padres com diferentes missões na Diocese, Diáconos, Religiosas e Leigos ligados a vários sectores da missão da Igreja diocesana).
No sentido próprio, o Sínodo Diocesano é uma assembleia de sacerdotes e de outros fiéis, membros de uma Igreja ou diocese, convocada pelo Bispo diocesano. No nosso caso, da diocese de Portalegre-Castelo Branco. Podemos também dizer que é uma forte experiência de Igreja. Para ser fiel, a Igreja pretende avaliar a sua missão específica no mundo em que está inserida: como tem realizado essa missão, como a projecta no futuro próximo.
Quanto aos objectivos do nosso Sínodo, podemos resumi-los assim, conforme escrevemos no dito ‘desdobrável’: descobrir e aprofundar mais a identidade e a missão da Igreja, para promover também uma Igreja mais fiel a Deus e com maior capacidade de ser testemunha no mundo; incentivar os cristãos para uma vida mais coerente com a sua fé; suscitar a participação de todos os que, estando fora da Igreja, se preocupam com os temas da fé e da moral cristãs; proceder à avalização de toda a vida diocesana, por meio de uma reflexão serena, aberta e confiante; elaborar as necessárias orientações, de modo a renovar as mentalidades e os serviços pastorais.

SM - Há uma equipa que trabalha na preparação deste Sínodo. Quais as etapas de um Sínodo?

Cónego Bonifácio - São três as etapas do Sínodo Diocesano, na modalidade actual: 1ª A informação sobre o Sínodo, o esclarecimento e a mobilização dos cristãos a participarem. Nós recorremos a reuniões com sacerdotes, mas também com numerosos leigos, nos arciprestados, com os membros dos Conselhos Pastoral e Presbiteral; e também nos servimos de um pequeno ‘desdobrável’ (75.000 exemplares) e de um Inquérito dirigido a toda a gente residente na diocese (75.000 exemplares), para auscultarmos os assuntos preferidos pelas pessoas, a analisar na 2ª e na 3ª fases. Foi o que se fez até agora, desde que foi aceite a proposta de realização do Sínodo, no início de 2009.
2ª A reflexão dos assuntos seleccionados a partir das preferências dos inquiridos. Esta selecção foi feita com método científico, recorrendo a programa específico de computador, e a partir da análise feita por peritos na matéria, em diálogo com os membros da Comissão pré-sinodal. Este é o trabalho que agora se inicia: estão a ser constituídos Grupos Sinodais nas paróquias, os quais, em reuniões próprias, reflectirão os temas seleccionados, apresentados em caderno próprio, a partir dos finais de Outubro.

3ª. Apresentação, apreciação e votação das propostas de acção pastoral da nossa Igreja diocesana, em Assembleia Sinodal (os delegados têm apenas voto consultivo, como é próprio de um Conselho). Estas propostas, formuladas por uma Comissão Teológica e Pastoral, serão elaboradas a partir das que forem enviadas pelos Grupos Sinodais, oportunamente.

SM - Fez-se um inquérito. Para que serviu e quais os resultados?

Cónego Bonifácio - Como acabo de sublinhar, o Inquérito teve em vista, primeiramente, mobilizar as pessoas à participação, então e no futuro próximo; em segundo lugar, recolher as preferências dos inquiridos, relativamente aos assuntos que deveriam ser apresentados para reflexão e análise, quer nos Grupos Sinodais paroquiais, primeiramente, quer nas Assembleias Sinodais, a realizar tendo em conta a reflexão e as propostas de acção apresentadas pelos Grupos Sinodais Paroquiais.
Relativamente aos resultados do Inquérito, foco alguns dados:
* Foram recebidos pouco mais de 15.000 inquéritos preenchidos. Destes cerca de 2.000 foram considerados inválidos. Os Técnicos e a Comissão consideraram o resultado muito positivo, fruto do interesse das pessoas, da acção dos párocos e dos seus colaboradores, que distribuíram e recolheram os inquéritos preenchidos.
* Os três temas preferidos – era o que especialmente se pedia – foram, por ordem de preferência: A Família; A evangelização, Catequese e Liturgia; a par do tema Igreja no mundo; Vocações e ministérios na Igreja quase a par do tema Compromisso solidário dos cristãos. Feita a análise dos resultados, respeitando as preferências dos inquiridos, e após reflexão dialogada da Comissão com um dos peritos, foi decidido que em 2011/2012, os Grupos Sinodais paroquiais estudarão o tema Evangelização e Igreja no mundo.
* Oportunamente, será publicado um caderno com a ‘história’ do Inquérito, com todos os resultados (temas, sub-temas, percentagens por arciprestados etc) e a respectiva análise.

SM - Quem faz o Sínodo, isto é, como se processa a reflexão dos temas?

Cónego Bonifácio - O Sínodo diocesano, enquanto ‘caminhada com’ outros (Bispo, Padres, Religiosos e Religiosas, e Leigos), pressupõe a participação de todos os que queiram e devam interessar-se pela vida da Igreja diocesana e pela sua missão no mundo.
A Comissão pré-sinodal entendeu que um meio conveniente para a reflexão dos temas seria os Grupos Sinodais paroquiais. Não há regras fixas para a constituição destes Grupos Sinodais. Cada paróquia conhece as suas possibilidades e as suas limitações. O pároco e os seus colaboradores serão os dinamizadores locais destes Grupos, quer na sua criação, quer no trabalho que se lhes pede nas reuniões.
É de notar que a reflexão é aprofundada, num segundo momento, nas Assembleias Sinodais.

SM - Quais as grandes dificuldades no andamento de um Sínodo? As paróquias e as suas estruturas estarão motivadas para o trabalho do Sínodo?

Cónego Bonifácio - O Sínodo Diocesano exige o empenhamento de muita gente. Percorrer um caminho, se tem dificuldades, também tem surpresas que estimulam: a beleza da paisagem, o diálogo dos caminhantes, a entre-ajuda, a descoberta, por exemplo. Se não há que menosprezar as dificuldades, há que valorizar os estímulos que a ‘caminhada com ‘ os outros gera. A fase da preparação foi percorrida, com esforço, mas também com alegria. Os Grupos Sinodais paroquiais estão a ser constituídos. Há que motivar as pessoas para entrar nestes Grupos. Nem todos os Grupos caminharão com o mesmo ritmo. Uns andarão mais depressa, porque encontram menos obstáculos ou porque os seus membros são mais ágeis, e outros andarão mais lentamente. Agora, o que interessa é a criação dos Grupos Sinodais e, a partir de Novembro, o apoio e acompanhamento dos párocos e o empenhamento dos Grupos. Haverá resistências, críticas, desânimos, desistências, até frustrações, ao longo do percurso. As dioceses que já ousaram fazer Sínodo experimentaram tudo isto. Creio que as pessoas querem viver melhor a sua fé em Cristo, que gostam de se reunir para o estudo da fé, que querem uma Igreja mais activa e mais bela. O Sínodo Diocesano é uma oportunidade para alcançar estas metas. O caminho faz-se caminhando.


SM - Um Sínodo Diocesano demora muito tempo? Quando houver conclusões, como as levar à prática?

Cónego Bonifácio - A duração do Sínodo depende da caminhada que se vai fazendo. No nosso caso, por termos escolhido três assuntos a reflectir, durará três anos, em princípio. Sendo assim, haverá pelo menos três Assembleias Sinodais, uma em cada ano, nas quais serão votadas as propostas de acção pastoral para a diocese. Estas serão a parte principal das conclusões. Tudo isto será feito a partir do trabalho dos Grupos Sinodais. A Comissão Teológico-Pastoral, em diálogo com o Senhor Bispo, elaborará o trabalho final com as conclusões e orientações pastorais, que D. Antonino Dias aprovará e mandará publicar. É toda a Igreja Diocesana – Bispo, Padres, Diáconos, Religiosas, Leigos – que fica comprometida com a sua aplicação no concreto da vida das Comunidades.

SM - Um Sínodo Diocesano mexe com o modo de fazer pastoral? O que é que exige?

Cónego Bonifácio - O Sínodo Diocesano faz-se para mexer connosco: com as pessoas, nomeadamente com os padres, enquanto responsáveis locais das Comunidades cristãs, mas também com os Leigos, com as paróquias, com os movimentos eclesiais, com os Serviços diocesanos. As condições da nossa Igreja e do ambiente em que ela se insere continuam a mudar, por isso, é preciso que também os métodos, os meios, o ardor mudem, segundo as circunstâncias presentes. Sobretudo é necessário que os cristãos da nossa Igreja se renovem. Só com pessoas renovadas se renova a Igreja diocesana, isto é, se renovam as Comunidades cristãs. Tudo o mais vem por acréscimo. Só assim seremos Igreja para o mundo de hoje.



Eu, Nuno ... Seminarista ...

A Semana dos Seminários celebra-se de 7 a 14 de Novembro. Estamos, em pleno, na vivência deste tempo forte. Sabemos que há duas grandes casas (Seminários de Alcains e de Portalegre) na Diocese de Portalegre-Castelo Branco, mas estão vazias, não têm Seminaristas.

A Semana dos Seminários celebra-se de 7 a 14 de Novembro. Estamos, em pleno, na vivência deste tempo forte. Sabemos que há duas grandes casas (Seminários de Alcains e de Portalegre) na Diocese de Portalegre-Castelo Branco, mas estão vazias, não têm Seminaristas. Fomos ao encontro do Nuno, um dos Seminaristas Diocesanos, em estágio pastoral na paróquia de S. Miguel, em Castelo Branco.

Secretariado Diocesano das Missões (SDM) – Nuno, diz-nos quem és?
Nuno - Dizer quem sou! Bem, acima de tudo, um rapaz apaixonado pela vida que se foi descobrindo com o tempo apaixonado por Deus! Rapaz humilde, simples, que se deixou cativar pela profundidade de uma amizade com Deus. Um rapaz que compreendeu no projecto a que Deus o desafiava, o caminho de viver a sua vida de modo plena e livre, dedicando-se àquilo que sentia fazer mais sentido: a Deus e ao Mundo. Amante da vida (procura) valoriza o melhor de si em todos os seus momentos. Rapaz do seu tempo, e por isso com gostos semelhantes aos dos jovens de hoje. A família e os amigos são fundamentais e importantes na pessoa que é. Gosta do mais simples que se possa pensar: ler, ir ao cinema, ouvir música, fazer desporto, passear… Os meus amigos dizem que sempre se pode contar com ele! O Nuno não simpatiza com atitudes que não respeitem os outros: falta de seriedade, mentira, injustiça… atitudes estas com as quais tem dificuldade de viver. Rapaz teimoso, mas é simpático e bem disposto. Apesar de precisar de algum espaço e algum silêncio para si, para o seu encontro com Deus, não reconhece a sua vida longe das pessoas, são elas a razão da sua entrega a Deus e à Igreja… como se pode ver, rapaz simples.

A descoberta da vocação

2 – SDM – Quando e como descobristes que Deus te chamava? Como foi a tua ida para o Seminário?

Nuno - Pelos meus 21 anos vivi um tempo de grandes movimentações na minha vida. Surgiram, nesse tempo, algumas decisões que há muito aguardava assumir. Após várias aventuras e desventuras era um novo impulso, como se alguém me puxasse para a frente para reencontrar caminhos no realizar dos meus projectos de vida. Os meus projectos de vida, naquele tempo, não passavam por ir para o seminário, muito longe de pensar tal coisa. Foi um tempo de reaproximação com a vida da paróquia, com os vários dinamismos, com a Igreja da qual me havia afastado após os meus 18/19 anos. Estas realidades acabariam por me (re) lançar para uma relação de amizade mais próxima com Deus. Foi no caminhar com a paróquia, (onde o grupo de jovens teve a sua importância) e com Jesus Cristo que comecei a sentir mais viva a presença de Deus “nas minhas coisas”. A Sua presença era cada vez mais forte e assim, dia após dia, Deus ia ganhando maior expressão na minha vida, naquilo que eu era. Numa Eucaristia Dominical, no momento da escuta da Palavra de Deus e aquando o comentário do sacerdote às leituras, dei comigo a questionar-me. Olhava a minha vida e todas as mudanças que tinha até então sofrido. Percebia que a proximidade com Deus tinha mudado a minha forma de olhar a vida e que essa proximidade tinha-se tornado medida para as decisões mais simples do meu dia a dia. Esse facto levava a que a minha gratidão para com Deus fosse cada vez maior, aumentando o desejo de poder estar cada vez mais próximo Dele. O sinal de alerta aconteceu quando comecei a compreender mudanças profundas nas minhas prioridades de vida…aí os meus projectos já não estavam cheios de certezas. Foi na participação contínua e atenta da Eucaristia e na presença assídua junto do grupo de jovens da Paróquia, que a interrogação acerca do ser Padre foi aparecendo, acima de tudo na escuta da Palavra de Deus. Sentia-me cada vez mais desperto e mais sensível às “provocações de Deus” para ser Padre! As minhas primeiras reacções face a essa inquietação foram de ironia, negação e fuga. Rezava a provocação com Deus e dizia-Lhe que não compreendia o que se passava comigo, que aquelas ideias, então “descabidas”, não faziam muito sentido. Dos risos e ironias ao desejo de Deus foi um instante. Os nossos diálogos iam sempre ao encontro do “ser Padre” e interiormente as coisas começavam a ficar mais difíceis. Os meses passavam e a provocação ganhava outra expressão levando-me à negação sobre uma possível chamada a seguir Jesus… até que não consegui fugir mais e Ele… abraçou-me com tanta força que não consegui negar por mais tempo o seu convite a ser Seu discípulo. Dois anos depois, e após uma caminhada de acompanhamento com um sacerdote amigo, entrava no seminário de Leiria para um tempo longo de recolhimento, oração e reflexão acerca desse projecto ao qual Deus me chamava, Ser Padre! Foi um dos muitos anos marcantes da minha vida!

SDM – Como foi a tua caminhada até este momento, quando te preparas para, em breve, dares o teu sim definitivo, no sacerdócio?

Nuno – Depois de viver um ano em comunidade no Seminário de Leiria e de aí compreender que Deus me chamava a um tempo mais longo de discernimento acerca do desafio de ser Padre, segui para Coimbra. Em Coimbra, entrei para o Seminário Maior onde vivi numa comunidade mais alargada e para a faculdade, onde estudei a Filosofia e a Teologia. É a formação, a par de muitas outras dimensões, que é necessária para a formação do Padre de hoje, no meu caso Padre Diocesano. Formação esta para melhor acompanharmos a sociedade cristã e responder aos desafios que as comunidades colocam. Vivi no Seminário Maior de Coimbra durante cinco anos. Foram tempos onde a reflexão, a pesquisa, o estudo, a vivência comunitária, o lazer, mas principalmente, o tempo de relação e proximidade com Deus, me ajudaram a fortalecer o chamamento que Deus me fazia a ser Padre. Como em todos os caminhos, houve momentos muito bons e momentos não tão positivos, mas todos eles, momentos que jamais esquecerei e que se revelaram importantes para a minha entrega de todos os dias a Deus e à Igreja. É uma entrega de todos os dias que desejo que se torne numa entrega total, logo que me sinta preparado e a Igreja me ache digno de a servir! Terminados os meus estudos académicos, o nosso Bispo D. Antonino colocou-me na Paróquia de São Miguel da Sé, em Castelo Branco, para realizar o meu estágio pastoral. No presente momento, procuro acompanhar e ajudar os sacerdotes nas especificidades e dinamismos da paróquia, procurando compreender o que a envolve e assim crescer neste serviço de ser Padre Diocesano, ao qual me sinto chamado a entregar.

Os nossos Seminaristas

 SDM – Quantos são os seminaristas da nossa Diocese e onde se encontram?

Nuno – A nossa Diocese, além de mim, tem mais três rapazes que se preparam para um dia dizer sim a Deus no serviço à Igreja. O Pedro Dias, de Castelo Branco e o Miguel Serras, de Nisa, que actualmente frequentam o 1ºano do Curso Teológico, e o Miguel Coelho, de Montalvo – Constância, que realiza este ano um tempo forte de reflexão sobre o chamamento que Deus lhe faz a ser Padre Diocesano para depois, no próximo ano, começar os seus estudos Teológicos.
Estes nossos seminaristas encontram-se no Seminário de S. José, em Caparide – Lisboa, iniciando uma nova etapa na formação dos Sacerdotes da nossa diocese, que nos últimos anos estavam sob a responsabilidade do Seminário Maior de Coimbra.

Juventude e Vocação

SDM – Na tua perspectiva, nascido numa família e pertencendo a um povo concreto, porque é que a descoberta da vocação sacerdotal não atrai os jovens dos nossos dias?

Nuno – Essa é uma questão que não tem uma resposta fácil. Vivemos numa sociedade onde tudo passa muito rápido e onde para muitos, as coisas apenas têm uma medida, a medida do próprio. Penso que vivemos um tempo em que os nossos “jovens adultos” não são forte referência de testemunho para os jovens e onde os mais velhos reagem sempre de um modo difícil para com quem se está a descobrir e a conhecer, para quem tem necessidades de errar e experimentar coisa novas! Há uns tempos ouvia-se muito um slogan que demonstra o que aqui digo: “Children see, children do”, ou seja, “As crianças vêem, as crianças fazem”! Penso que se passa de igual modo com os jovens de hoje! Como estes “jovens adultos” demoram um pouco mais de tempo a encontrar os seus caminhos, os jovens, do mesmo modo, sentem que podem “gozar” uma vida livre e sem valores, sem compromissos com a vida e com o mundo. Jovens, para quem o que interessa é o momento presente. Onde, tão erradamente o agora, o vazio e fugaz, é que contam. Parece que digo que a nossa juventude está perdida! Não é isso. Se há “gente” que acredita nos jovens da nossa diocese, eu faço parte dessa “gente”. E como “jovem adulto” que sou, procuro testemunhar que a vida deve ser vivida de forma apaixonada e tendo sempre em conta o “porquê”, “para quê” e “para onde” da vida. Ter sempre presente uma vida com sentido. Acho que passa pelos mais velhos a resolução dos muitos problemas com os quais hoje nos defrontamos, não só na Igreja, mas também no mundo. São a estes que devemos “pedir” a responsabilidade de indicar caminhos aos jovens e não de os marginalizar como se fossem os responsáveis pelas dificuldades de hoje, pelo seu modo desligado e irreverente de ver e viver a vida!

Acredito que existe na nossa diocese muitos jovens que, alertados para o desafio que Deus lhes faz, não só colocariam a questão do ser Padre, como assumiriam o compromisso de reflectir esse convite da parte de Deus. Agora, o porquê da vocação sacerdotal não atrair os jovens dos nossos dias? Sinto que há um grande desconhecimento entre os mais novos acerca da vocação sacerdotal, do que é realmente ser Padre, Aos jovens de hoje, quando se lhes fala em Igreja ou em Padres, é vê-los reagir com uma postura defensiva, com algum distanciamento e alguma desconfiança. Sabem porquê? Porque temos dificuldade em falar bem dos nossos Padres e da Igreja, na família, na catequese, na escola… nas nossas comunidades cristãs. Se na paróquia falarem mal do Padre, qual é o jovem que depois de ouvir “raios e coriscos” sobre o padre aceita reflectir a questão de ser Padre? Nenhum! Pouco se fala acerca do Padre e da sua missão… e quando se fala não é suficiente para dar confiança aos jovens para assumirem o chamamento que Deus lhes faz. Aqui há uma missão muito importante que é própria da família, da escola, da catequese e, por último, mas muito importante, do Padre. Ao Padre é pedido testemunho vivo e apaixonado a sua entrega a Deus e ao serviço da Igreja. Que esteja presente na vida dos jovens das comunidades, que os acompanhe e os desafie a conhecer e a participar nas actividades, nos encontros paroquiais e diocesanos que são próprios para as suas idades. Em diálogo com alguns jovens com quem me vou cruzando tenho vindo a descobrir que desconhecem a existência de organismos juvenis, quer sejam diocesanos, missionários ou de outro movimento da Igreja, presentes na nossa diocese. Se não conhecem, não aparecem. Se não aparecem, não são desafiados. Se não são desafiados, nada há que os possa atrair e colocar em questão qualquer caminho que passe pela participação na vida cristã, o mesmo pela questão do ser Padre. Conhecendo a vida do Padre e da Igreja, cedo descobrirão uma Igreja diferente daquela que está presente na cabeça da maior partes dos jovens de hoje. Uma Igreja fechada, velha, alheia ao mundo de hoje e aos seus problemas. É preciso afastar os “maldizeres” sobre a Igreja e apresentar aos jovens uma Igreja igualmente jovem e rica. Rica na sua história, rica nas suas tradições, rica nos valores que assume importante para a dignidade da vida de todos os Homens. Nesta descoberta de uma Igreja para os tempos de hoje, é importante levar os jovens à descoberta da Pessoa de Jesus Cristo e da Sua Mensagem. É incrível, mas muitos os nossos jovens, com catequese concluída, não conhecem a vida da Pessoa de Jesus, não conhecem o Evangelho. Como é que alguém se apaixona pelo desconhecido? Como disse no início, é uma questão que não tem fácil resposta, mas que é preciso urgentemente ser reflectida.

Tempo forte de encontro e descoberta

SMD - Vivendo a Semana dos Seminários, como podemos fazer dela (e não só nesta Semana!) um apelo constante para a gente jovem?

Nuno – Em primeiro lugar, falar-lhes do sentido de existir uma semana de oração pelos seminários. Chamar a atenção de que não é pelos seminários edifícios, mas pelos rapazes e padres que o constituem. Mais que um edifício, o seminário são os homens que nele vivem e fazem caminho, que se descobrem discípulos de Jesus Cristo! Falar-lhe o que é um seminário, para que serve e chamar-lhes a atenção de quem são os seminaristas na nossa diocese e, se possível, conhecer as suas histórias de vida e vocacional! Depois sim, chamar a atenção para os nossos seminários diocesanos e os organismos que com eles trabalham na procura de interpelar e desafiar os jovens a conhecer de modo mais profundo as suas realidades. Quem sabe se não seria um excelente local a visitar nesta semana pelos seminários? Dar-lhes a conhecer o tema deste ano (“Seminário, comunidade dos discípulos de Cristo e irmãos no presbitério”) e procurar algo dinâmico que os leve a uma aproximação com a especificidade da semana em si. Falar-lhes destas realidades e ajudá-los a rezar por elas, seria de certo uma forma muito rica, um forte apelo, que os poderia levar a olhar os seus caminhos de vida e a desbravá-los, despertos para esta realidade cristã.

SDM – O que podes dizer aos jovens para os motivar a parar e a descobrir a sua vocação? Lança um desafio!

Nuno - Acho que o desafio é mesmo o de conhecer Jesus Cristo e a Sua Igreja. Depois envolver-se na dinâmica da paróquia (onde se encontra) e da diocese de modo a partilhar com outros os dons que Deus colocou ao seu dispor. Abrir o coração e baixar as barreiras para que Deus possa continuamente desafiá-los e estes o possam escutar. É importante, independentemente das vocações que se sentem chamados, responder a um conjunto de interrogações que os ajudarão a construir caminho e que sem as quais, andarão à deriva, sem as quais as suas vidas terão pouco de estrutura. Cada um é um e único. Cada um é chamado por Deus a uma vocação específica. No entanto há que ter a força e a coragem para assumir, primeiro para si e depois para os outros, a sua verdadeira vocação, o seu verdadeiro caminho de felicidade. Aos jovens não posso perder esta oportunidade de lhes dizer que hoje mesmo Deus os chama a um projecto de vida maravilhoso, quer seja ele no matrimónio, numa ordem religiosa ou mesmo no caminho do sacerdócio, no ser Padre. Se sentem o desejo de ser Padres, porque não? O desafio é o de não fecharem os corações só porque têm receio, inseguranças, dúvidas… procurem alguém que vos ajude a quietar o vosso coração, a parar e a dialogar com Deus de modo a serem fiéis na resposta aos desafios que Ele vos faz. Peço-vos à maneira do Papa Paulo VI: Jovens sede jovens. Que a vossa paixão e irreverência, própria dos jovens cristãos, pelo dom da vida, seja canalizada para o mundo de hoje, onde vocês são únicos e especiais, portadores de uma missão de amor e esperança: Jesus e a Sua Boa Nova. Sim, tu! Estas palavras e desafios são para ti que as lês. Já te questionaste a que caminho Deus te chama? Ser Padre, porque não? Porquê? Tu porque és diferente!

SDM - Obrigado pela tua colaboração e empenho e que Deus te ajude sempre a ser fiel à tua vocação.

Nuno - Eu é que agradeço o convite e a oportunidade de partilhar o que sou e tenho com todos vós. Um grande bem-haja!

P. Agostinho Sousa

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Entrevista a D.Antonino Dias

SDMNa homilia da apresentação à Diocese, o Senhor D. Antonino, a certa altura disse: “… a nossa Diocese seja uma verdadeira escola e casa da comunhão, toda ela missionária e de rosto materno.”. Quase dois anos passados e tendo percorrido, em visita pastoral, quase toda a Diocese, como a vê e sente? Será ela missionária e de rosto materno?




D. Antonino - A nossa Diocese tem mais do que rosto materno. Avozinha, talvez seja a melhor palavra para a definir, em parte. E o que é que nós, em certas zonas da Diocese, haveríamos de esperar? Missionária, gostaria que fosse mais. Salvo algumas belas excepções, atendendo, como disse, às zonas, dão-se conselhos de avozinha…A maior parte da sua gente é “doutros tempos”: teve educação diferente, vida difícil, fé em riste e testemunho quanto baste a endireitar os caminhos da fome e os pés descalços da vida. Vivem de saudades desse tempo, mesmo que difícil, lembrando sempre que até acarretaram a pedra para a sua igrejinha, lá do lugar, que iam fazendo dia e noite, com muito amor, e onde se começou a fazer uma festa ou romaria ou novena que agora já ninguém sabe fazer como naquele tempo…Oh! aquilo é que era!… No entanto, esta boa gente, continua a ser ponto de referência, embora se torne impermeável a grandes iniciativas pastorais e a alguma possível mudança de ritmo. A sua mensagem falada é superada pelo seu testemunho persistente, sofrido e isolado encostando-se uns aos outros, contemporâneos que se sentem a morrer, embrulhados nas ortigas da injustiça, que picam sempre e causam dor. Os novos respeitam e aparecem para o fim-de-semana festivo, férias e festas familiares, são seus amigos e muitos vivam preocupados com a situação deste pobre interior a esvaziar-se tristemente. Que fazer? Incutir esperança. Gritar contra o desânimo e sermos capazes de dar razões de viver, mesmo assim, com alegria e entusiasmo. A vida é dom de Deus e tem de ser vivida com dignidade e teimosa valentia, criando condições e interesses…A Igreja está no terreno. Ser Igreja missionária é promover a pessoa na sua relação com Deus, consigo própria, com os outros, com a própria natureza. É fazer com que cada um se sinta feliz e bem na sua pele e na sua caminhada em direcção à Pátria definitiva. “Uma Igreja que deixa de ser missionária é uma Igreja morta”(Bouyer).




SDM - Com data de 17 de Junho, a Conferência Episcopal apresentou uma Carta pastoral, com o título: “Para um rosto missionário da Igreja em Portugal”. Era necessário um documento nesta área missionária? Será que a Igreja em Portugal não tem um rosto missionário? Como dar sequência e concretização desta temática, nas Dioceses, paróquias e grupos?



D. Antonino – Já o Padre Yves Congar afirmava que a Igreja é essencialmente missionária. Ela não é feita para si mesma, não constitui o seu próprio fim mas, como o Verbo encarnado, ela existe para nós, homens, e para a nossa salvação… A missão é, pois, a vocação própria da Igreja e a expressão da sua identidade mais profunda. Basta ler o Decreto sobre a actividade missionária da Igreja e facilmente entenderemos esta afirmação. Os documentos que vão surgindo são sempre uma chamada de atenção para avaliar o caminho que estamos a percorrer ou do qual nos desviamos ou facilmente podemos fugir. Torna-se necessário ver e julgar para agir refontalizando, indo às fontes e dando as respostas necessárias às situações concretas dum mundo concreto sem nos deslumbrarmos com as luzes nem nos angustiarmos com as sombras. Sendo o mais possível realistas, criativos e fiéis à nossa vocação missionária temos de partir levando Cristo a quem O não conhece e acolhendo com alegria e delicadeza quem O viu e vem até nós para mais facilmente fazer a experiência do encontro com Ele. Embora não nos faltem documentos, eles, entendo eu, são sempre necessários. Há novos problemas, novos maneiras de pensar, novas possibilidades, mudanças que não param e não é bom fazê-las tropeçar, há…há…há um mundo que corre como um rio inclinado e não sabemos bem em que mar vai desaguar. Há gente com maior sensibilidade para ler os sinais dos tempos. Ver, analisar, reflectir e dar a conhecer o que se reflecte e pensa é bom. Pena é que tantos bons documentos não se leiam e, muito menos, se estudem. Alimentamos a esperança de que alguém sempre estará atento.

SDMEsta entrevista é para a página do Secretariado Diocesano das Missões e que apareceu nos primeiros dias de Maio último. O Senhor Bispo acha que estes novos meios de comunicar podem contribuir para o rosto missionário da Igreja?

D. Antonino – Claro. Evangelizar é comunicar. A comunicação faz-se de muitos modos, jeitos, feitios e linguagens. Deve estar sempre ao serviço da Verdade, do bem comum e do bem das pessoas. Devem denunciar o que está menos bem e dar a conhecer e aplaudir o que está bem. A Evangelização tem de servir-se destes meios, pequenos ou grandes, escritos, falados ou mais sofisticados e já comuns como as redes sociais e toda essa panóplia de tecnologia que embora se vá tornando cada vez mais familiar acabamos por estar sempre em actualização. É um desafio constante. A Diocese tem feito progressos nestes novos meios de comunicar e já a maior parte da informação chega através dela. Continuaremos a caminhar. Penso que a acção missionária se esquecer estes meios não irá longe. Empata e enerva-se. A nossa gente, idosa e doente, por esses lugares mais próximos ou mais recônditos ou inóspitos, acompanha atentamente os meios televisivos e a rádio, reza com a televisão e a telefonia e está em comunhão com a Igreja universal, com a Igreja que está em todo o mundo, ouvindo as mesmas leituras, reflectindo a mesma Palavra, fazendo os mesmos gestos, interiorizando, fomentando a sua cultura da fé e permanecendo informada. E tudo serve para dialogar, mais tarde, no encontro da fidelidade aos hábitos adquiridos e à necessidade de se verem no centro do lugar ou da aldeia. Tenho ouvido testemunhos interessantes e que me deixam feliz e grato pelos mesmos. Na verdade, a Encarnação do Verbo é o mais profundo e eficaz motor da globalização, congrega sinergias e cimenta a fraternidade universal na Pessoa de Jesus Cristo, na Sua Palavra libertadora, na Verdade que nos libertará.

SDM - A mensagem do Santo Padre para o Dia Mundial das Missões diz que “ a construção da comunhão eclesial é a chave da missão”. Como entende, para a nossa diocese, esta mensagem? Para o Senhor Bispo, qual foi a tónica mais marcante da presença e das mensagens do Santo Padre aquando da visita que fez ao nosso país?


D. Antonino – Todos sabemos que a actividade missionária se situa na dinâmica do amor trinitário. A missão tem fundamentos trinitários e pneumatológicos. A Igreja conciliar, animada pelo Espírito, define-se a si própria como mistério de comunhão. E o Santo Padre, na Mensagem referida, diz-nos que a comunhão eclesial nasce do encontro com o Filho de Deus, Jesus Cristo, que, no anúncio da Igreja, chega aos homens e cria comunhão com Ele mesmo, com o Pai e o Espírito Santo, sobretudo a partir da Eucaristia, em que Cristo com o seu sacrifício de amor edifica a Igreja como seu corpo, unindo-nos a Deus uno e trino e entre nós. É uma ideia básica e bela a explorar. Para a nossa Diocese gostaria de alertar para a centralidade do anúncio em Jesus Cristo e para o amor à Eucaristia, “fonte e vértice” da acção missionária. É em seu nome que existimos, nos movemos…. A pastoral missionária não é a agitação de pessoas e muito barulho. Há que criar espaços para a escuta serena e silenciosa, para a interiorização e a oração. Olhem o que aconteceu na Celebração Eucarística na Praça do Comércio, em Lisboa. Uma multidão em silêncio, um silêncio que falava por si e fazia interiorizar e fazer mais silêncio. Que momento de paz e de anúncio!… Que aula de pedagogia missionária! O silêncio das nossas igrejas é um encanto, deveria ser mais promovido, escutado e interiorizado. Ele, o Senhor, está lá. Em silêncio atento e amigo! Do muito que disse o Santo Padre quando nos visitou, entre outras, fixei uma frase que já a tenho repetido e tento viver. Embora dita noutro contexto, eu gostaria que ela fosse uma espécie de lema, sobretudo para todo o Clero e para todos os Agentes da Pastoral que vivem preocupados, não por fazer bem o que sempre fizeram mas por serem criativos na acção missionária: Fazei coisas belas, mas, sobretudo, fazei das vossas vidas lugares de beleza. Assim, o Evangelho passará melhor. Jesus Cristo será mais conhecido e amado e as pessoas sentir-se-ão mais família.

SDM No dia 23 de Outubro, véspera do Dia Mundial das Missões, acontecerá a 2ª Jornada Missionária Diocesana, no Seminário de Alcains, a qual se destina a todas pessoas e a todos os sectores da pastoral diocesana. A propósito deste acontecimento, o Senhor Bispo quer deixar alguma mensagem ou fazer algumas propostas para que, de facto, a toda a nossa Diocese seja missionária?


D. Antonino – Gostava que participasse o maior número de pessoas influentes nos meios diocesanos, arciprestais e paroquiais. Não para fazer número. Mas sim para ouvir, intervir e aprofundar aquilo que é essencial à nossa missão: homens, mulheres, crianças, famílias, sacerdotes e leigos, consagrados e consagradas, todos somos missionários simplesmente porque somos cristãos. Gostava que se lesse, estudasse e desse andamento ao último Documento da Conferência Episcopal e que ninguém esmorecesse na sua acção tão necessária no seio das comunidades em que trabalham. A Igreja diocesana precisa de todos. Do entusiasmo e da alegria de todos nesta aliciante sementeira em campo tão vasto quão diferente. Mas é o nosso. E que bom! Também desejo que toda a Diocese vá tomando consciência de que também há um Secretariado Diocesano das Missões que não podemos ligar apenas a peditórios. É um Secretariado fomentador desta cultura missionária, vocação da Igreja, de cada um de nós, a quem todos se devem sentir ligados e pedir a necessária ajuda e apoio.

SDMMuito obrigado, por aceitar este desafio.

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"Se hoje ouvirdes a voz do Senhor, não fecheis os vossos corações" Salmo 94



A vida presente é aquele dia que se chama hoje, em que Ele espera a nossa resposta. É o «hoje» em que tudo é de novo possível.

Manuel António, natural de Retaxo, vinte e cinco anos, licenciado em Sociologia, Dirigente do Agrupamento de Escuteiros 624 de Cebolais de Cima, pertence ao Grupo de Jovens de Retaxo – Caminhantes da Paz e ao Secretariado Diocesano dos Convívios Fraternos, professor de Educação Moral e Religiosa Católica em Portalegre na Escola Básica 2/3 Cristóvão Falcão, vai ingressar no próximo dia 5 de Outubro na Companhia de Jesus!
Antes da sua partida, quisemos registar o seu testemunho…


SDM – Manuel António, este chamamento do Senhor, que agora ocorreu, certamente foi fruto de um caminho trilhado. Fala-nos um pouco da tua vida nomeadamente dos primeiros anos da tua juventude e de todo esse caminho que foste percorrendo.
Manuel António- Desde a minha infância que me lembro de ir à missa acompanhado pelos meus pais, tenho algumas recordações de me deixar dormir ao colo de um deles na missa do Galo. Bem mas passando a assuntos mais sérios, fiz toda a caminhada da Catequese até à Confirmação a partir desse momento comecei a ser catequista e a poder transmitir aos outros tudo aquilo que tinha aprendido, senti a necessidade de servir os outros, mais directamente. Entretanto aos 14 anos entrei para os Escuteiros, sendo o meu Agrupamento um dos pilares da minha formação humana e que em muito contribuiu para a minha relação com Deus ser cada vez mais sólida. Com o passar dos tempos fui crescendo e chegou uma das alturas mais importantes na vida de cada jovem, o tempo da Universidade, nessa altura surgiu a oportunidade de realizar o meu Convívio Fraterno, uma das experiências mais enriquecedoras a nível de fé e de encontro com pessoas, que hoje são dos meus melhores amigos e que me levaram a conhecer a Companhia de Jesus, mais propriamente o CUMN (Centro Universitário Manuel da Nóbrega em Coimbra). Aqui tive o privilégio de integrar o grupo Bússola (grupo de voluntariado missionário) e fazer projecto em São Tomé e Príncipe nos verões de 2006 e 2007. No CUMN tive a possibilidade de participar em inúmeras actividades, que me deram a conhecer a Espiritualidade Inaciana.



SDM – Disseste que “vou mudar de vida”. De facto mudar a vida por completo, aos vinte e cinco anos, não é fácil, mas é certamente algo bem amadurecido no teu coração?

Manuel António – Sim, foi algo muito ponderado e bem discernido, uma vez que uma decisão de tamanha radicalidade não se toma de ânimo leve. Esta decisão foi rezada ao longo de muitos meses, as dúvidas e incertezas faziam e fazem parte de todo o processo e tenho a clara consciência de que continuarão a fazer parte do meu dia-a-dia. A decisão só foi “fechada” nos Exercícios Espirituais de 7 dias, aí tive a plena certeza de que Ele me levava a seguir por este caminho.
SDM – O que deixas para trás? E o que procuras, neste novo caminho? 
Manuel António - Não é bem deixar para trás, mas sim abdicar de algumas coisas para conseguir encontrar o meu caminho de realização e de me colocar no caminho que Ele traçou para mim. No que toca a coisas concretas, posso dizer que deixei os meus alunos e colegas de trabalho, o meu Agrupamento, os Convívios Fraternos, o Grupo de Jovens e inúmeras, outras coisas que faziam parte do meu quotidiano. No entanto, sei que este novo caminho me vai trazer algo que me faltava para ser plenamente realizado/feliz, onde a entrega e o serviço aos outros pode ser total, sem limites e só vou chegar onde Deus me levar.

SDM – Como diz o Salmo 94 “Se hoje ouvirdes a voz do Senhor, não fecheis os vossos corações!” Foi isto que aconteceu?

Manuel António - Acredito bem que sim, em tempos sempre disse que a vida consagrada não era para mim e dizia que nunca seguiria esse caminho. Entretanto, Ele tem um sentido de humor fantástico e vai-nos pregando rasteiras e colocando certas dúvidas em momentos que às vezes nem esperávamos e foi como diz a frase do Salmo, não conseguir dizer-lhe que não, acredita que a minha vontade muitas vezes foi dizer-lhe que queria manter a minha vida “normal”, seria tudo mais fácil. Como sabes, Ele não desiste facilmente de nós e continua a insistir sempre, se lhe fecharmos a porta, Ele vem e bate-nos à janela e se mesmo assim não O quisermos ouvir, Ele é um chato e continua a insistir até que o nosso coração não resiste ao Seu convite de amor… e lhe dizemos sim com a plena confiança de que este trilho é feito de pequenos passitos e que Ele estará sempre connosco.

SDM – Vais entrar para o Noviciado da Companhia de Jesus. Serás padre ou irmão, se Deus quiser, daqui a alguns anos. Fala-nos desse caminho que, em breve, vais iniciar.

Manuel António – A formação dos jesuítas tem pilares centrais que são os dois anos de Noviciado; seguidos de alguns anos de Filosofia e Humanidades, normalmente três anos; o magistério, “estágio prático” de dois anos; cinco anos de Teologia e finalmente a Terceira Provação, por conseguinte não há muitos jesuítas com formações idênticas, cada um vai trilhando o seu caminho conforme a sua caminhada interior e atendendo sempre às necessidades da Província. A primeira etapa – Noviciado, aquela que vou iniciar já no dia 5 de Outubro é um tempo de maior recolhimento, onde vamos conhecer a Companhia por dentro, estreitarmos a nossa relação com Deus e conhecermo-nos melhor e confirmarmos a decisão de O seguir.

SDM – “Podes comunicar-te comigo por carta”… No século XXI, na era digital…Como será voltar ao “antigamente”?

Manuel António - Acho que será mesmo engraçado o poder voltar a escrever cartas, hábito que há muito se perdeu, as cartas são algo de muito valor, uma vez que aquilo que sentimos é expresso e registado por palavras e acabamos por guardar e voltar a elas sempre que necessário. Acredito que as novas tecnologias muitas das vezes nos levam à falta de liberdade, a estarmos presos a algo que é supérfluo, como o telemóvel e a internet. O desprendimento destas pequenas coisas só nos fará bem! Todos devíamos experimentar deixar o telemóvel e a internet de lado durante uns dias… fica a proposta!
SDM – Que mensagem gostarias de deixar aos jovens?
Manuel António – Não tenho nenhuma mensagem em concreto, simplesmente o de se deixarem tocar por Ele e nunca nos esquecendo que nós também somos pequenos instrumentos de Deus na vida dos que nos rodeiam. Devemos de O saber ver nas pequenas coisas, é na simplicidade que Ele se encontra, na partilha, nas pequenas e singelas coisas do nosso quotidiano Ele está lá. Baden-Powell, o fundador do escutismo diz algo que pode resumir aquilo que quero dizer aos jovens, que nós só somos verdadeiramente felizes se contribuirmos para a felicidade dos outros. Fica o excerto de uma música: “E se algum dia me afastar de ti, E se algum dia me esquecer de nós, Vem procurar-me onde eu estiver Não penses que eu sei ser sem ti, sou apenas um aprendiz de Viajante!” Sejam pequenos aprendizes de viajante!

Agradecemos ao Manuel António a sua abertura e disponibilidade para este testemunho e desejamos as maiores felicidades para a sua nova vida e nova missão, e unimo-nos a ele com a nossa Oração amiga!
Elsa Sequeira

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Missionários abertos à vocação universal da Igreja


Os Missionários do Verbo Divino assumiram em 19 de Setembro o trabalho pastoral na região de Nisa, diocese de Portalegre e Castelo Branco.
D. Antonino Dias, nomeou a 14 de Julho, os padres Jacinto Baginski e Sebastião Koottiyanickal, párocos “in solidum” de todas as paróquias do concelho de Nisa, no arciprestado de Ponte de Sor, ficando como moderador o Padre Jacinto Baginski.
O P. Jacinto é natural da Polónia, onde nasceu em 1967, pertence aos Missionários do Verbo Divino. Em 15 de Maio de 1994 fez votos perpétuos. Foi ordenado diácono, em Lisboa, a 3 de Julho de 1994 e presbítero, em 29 de Julho de 1995, em Nysa, na Polónia. Em 2007 foi para a comunidade de Almodôvar (diocese de Beja), sendo nomeado pároco in solidum. Desde Maio de 2010 é membro do Conselho Provincial da SVD em Portugal.


Natural do estado de Kerala, na Índia, nasceu em 1972 e pertence aos Missionários do Verbo Divino. Fez a profissão perpétua, em Fátima, no dia 26 de Dezembro de 2000. Em 2001 regressou à Índia, onde foi ordenado diácono no dia 8 de Agosto de 2001 e presbítero a 29 de Abril de 2002. A partir desse ano pertenceu à comunidade de Tortosendo (Covilhã), onde trabalhou na pastoral vocacional e juvenil e como pároco in solidum.


No começo desta nova frente missionária e no mês das Missões, o Secretariado diocesano foi ao encontro desta nova comunidade e questionou o seu moderador sobre a realidade que estão a descobrir, os motivos que levaram a sua Congregação a aceitar este desafio e o seu estado de alma neste início de caminhada com o povo de Nisa. Neste contacto fica bem vincado e expresso o sentido da missão, da comunhão e da partilha.

SDM - Que significa para os Missionários do Verbo Divino e, concretamente, para os Padres Jacinto e Sebastião, abraçar este novo desafio, ou seja, abrir uma frente missionária em Nisa?

P. Jacinto - Chegamos a Nisa como resposta a um pedido de D. Antonino Dias, bispo da diocese de Portalegre-Castelo Branco. A nossa presença nesta região é reflexo, em primeiro lugar, da vontade de colaborar com as estruturas pastorais da Igreja em geral, e desta Igreja diocesana, em particular. Como missionários procuraremos ter sempre viva a dimensão essencial da Igreja, aberta à vocação universal.

SDM - Chegar a Nisa às portas do mês de Outubro, o mês missionário, que força simbólica projecta para a missão nesta zona do Alto Alentejo?

P. Jacinto - O facto dos párocos serem missionários do Verbo Divino, provenientes de países e até continentes diferentes, marca de forma acentuada a dimensão universal da vocação cristã. O P. Sebastião e eu, como membros de uma Congregação missionária ‘ad gentes’ iremos tentar dar a conhecer, por um lado, a espiritualidade que nos legou o nosso Fundador - Santo Arnaldo Janssen - e, por outro, sensibilizar as pessoas que nos são confiadas pastoralmente, tanto para os desafios colocados em relação à missão para outros espaços geográficos mais distantes, como para a “nova evangelização” que se apresenta como caminho para seguir no nosso contexto.


SDM - Que podem esperar os habitantes de Nisa da nova equipa missionária?

P. Jacinto - Parafraseando as palavras de S. Paulo, penso poder dizer que tanto o P. Sebastião como eu, nos esforçaremos por sermos ‘fiéis administradores da graça de Deus’. Entendo a minha vocação sacerdotal-religiosa-missionária como chamamento e envio, por parte do Senhor, para anunciar a Sua Boa notícia a cada homem e a cada mulher. Sem fé na presença viva e vivificante de Jesus Cristo, não encontraria motivos suficientes para levar por diante este estilo de vida. A tarefa que nos é incumbida supõe uma grande dose de humildade e capacidade de serviço. Conscientes de sermos simples trabalhadores na messe do Senhor, tentaremos cultivar estas atitudes, procurando ser testemunhas do nosso encontro com Jesus, “o Caminho, a Verdade e a Vida”.

SDM - Passou um mês desde que assumiram esta realidade pastoral. O que viram e sentiram no primeiro contacto com o terreno de acção?

P. Jacinto - O nosso contacto inaugural com a realidade do Alto Alentejo foi muito positivo. Ficámos sensibilizados com a atitude acolhedora dos habitantes de Nisa e de outras freguesias pertencentes ao Concelho. A nível pastoral notámos que um bom número de paroquianos assume com muita consciência o seu papel de leigos na Igreja. Neste sentido, apesar do desconhecimento inicial de espaços e actividades, a nossa progressiva integração tem decorrido de um modo bastante afirmativo. Em resumo, sentimo-nos apoiados e ajudados neste processo de vivência eclesial.

SDM - Estamos quase a viver a Jornada Missionária. Participaram, pela primeira vez, na Assembleia Diocesana. Que palavra final para os visitantes da página do Secretariado das Missões?

P. Jacinto - Efectivamente, a Assembleia Diocesana proporcionou-nos uma visão mais vasta da realidade da vida na Diocese. Pessoalmente, gostaria de fazer minhas as palavras do Sr. Bispo que afirmou que “a medida das coisas grandes é grandeza”. Estou convencido que um renovado ardor missionário só pode ser suscitado por pessoas que vivem a presença real e transformante do Ressuscitado como motivo de alegria e orgulho. É vivendo profundamente a grandeza da nossa vocação que podemos dar frutos da Nova Evangelização nas nossas comunidades e na sociedade.


Nisa: Acolhe a 3ª Jornada Missionária Diocesana

O Secretariado das Missões, no final desta entrevista, anunciou à Comunidade dos Missionários do Verbo Divino que a 3ª Jornada Missionária Diocesana, a 22 de Outubro de 2011 será em Nisa. As razões que levaram a esta escolha prendem-se com a localização da Vila de Nisa, em relação a toda a Diocese, a rotatividade de Arciprestados e o facto de, a partir deste Ano Pastoral acolher uma Comunidade Missionária. O P. Jacinto e o P. Sebastião acolheram a notícia e o desafio com disponibilidade e com alegria. Agradecemos a ambos a sua atitude e esperamos trabalhar para que, como diz o nosso Bispo, “… a nossa Diocese seja uma verdadeira escola e casa da comunhão, toda ela missionária e de rosto materno.”

P. Agostinho Sousa




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"Ser intermediário do amor é fantástico"

José da Silva Vieira, padre, Missionário Comboniano, passou pela nossa Diocese. Esteve em Retaxo na Festa de Nossa Senhora de Belém. Celebrou connosco. Aproveitamos, por isso, a ocasião para uma conversa, sobre a sua pessoa e Missão.


SDMSer missionário, o que é?

Ser Missionário é partilhar a experiência de Jesus e viver a fraternidade à volta d’Ele. Para mim, a vida só faz sentido se for vivida com e para os outros. Para encher a vida de sentido e de esperança, é preciso dá-la, pô-la ao serviço da fraternidade e da comunhão. O missionário é um andarilho, um cigano do Evangelho, a viver sempre na provisoriedade, meio desenraizado e que, frequentemente, tem que cortar com laços, afectos e lugares. Por outro lado, vive de uma forma muito especial a ternura e o carinho de Deus ao incarnar através da vida e das várias actividades em que se desdobra a missão, o amor de Deus pelo seu povo.



SDMNos tempos que correm, vale a pena ser missionário?

Num Mundo onde apenas ¼ da população conhece Jesus, não só vale a pena, como é URGENTE ser Missionário!


SDMComo missionário, quais as experiências e episódios mais gratificantes?
Na Etiópia onde estive oito anos, a experiencia mais gratificante foi entrar numa nova cultura; aprender uma nova língua, foi como um “nascer de novo” e neste contexto viver com eles a Mensagem de Jesus, através da história pessoal deste povo.

No Sudão, onde estou há quatro, ser Missionário é, sobretudo, partilhar a verdade com as pessoas; através das notícias e da rádio e ajudar as pessoas a ultrapassar os traumas de uma guerra de 21 anos.



SDME já agora, algum momento de desânimo, de ter a sensação de nada poder fazer?

Os primeiros tempos no Sudão foram preenchidos por um pouco de desânimo, porque não havia pessoas preparadas para trabalhar na rádio. Foi necessário começar do zero. Ensinar as pessoas a trabalhar e quando estas já sabiam alguma coisa acabavam por ir embora, porque os ordenados que podemos pagar não são muito altos…E, mais uma vez, tinha que se começar novamente com outras pessoas. Até que chegou uma equipa estável e as coisas começaram a engrenar. Mas, eu sei que é necessário aceitar as pessoas como são e caminhar ao seu ritmo!


SDMA paixão pela missão, nasce connosco ou é preciso descobri-la e fortalecê-la diariamente?

A paixão pela Missão é uma caminhada. Ela vem do chamamento do Senhor e vem da descoberta de que Ele nos ama como somos. No entanto, ao longo da caminhada, é necessário continuar a alimentar essa paixão!

SDMO que leva um (a) jovem ou um adulto optar pela missão, deixar tudo e ir para onde tudo é pouco, desde os recursos alimentares até à saúde? Como lida o missionário com situações de extrema pobreza e de falta de meios?

O que leva alguém a optar pela Missão e por tudo o que ela envolve é, sem dúvida, a descoberta desta ternura de Deus na nossa vida. Jesus ao enviar os Apóstolos/ Igreja disse: “ …Eu estarei convosco até ao fim dos tempos…”, por isso, esta certeza é para mim, uma grande fortaleza em todas as situações e também nas de limite.


SDMOnde trabalha, neste momento, qual é o ritmo de vida do missionário P.e Zé Vieira?

Neste momento e desde há quatro anos a esta parte, encontro-me a trabalhar em Juba, capital do Sul do Sudão. Sou director de informação das rádios católicas do Sudão.

O ritmo de cada dia, começa pelas 6.00 h da manhã, segue-se a Oração pessoal, as Laudes e a Eucaristia, celebrada em conjunto com a comunidade masculina e feminina. Depois o pequeno-almoço. Pelas 8 horas, o início do trabalho. Editar as notícias. Pelas 9 horas, reúno com os três jornalistas, para analisarmos a agenda do dia e distribuirmos tarefas, tais como recolha de informação, encontros, entre outros. Às 13 horas, o almoço. E pelas 14:30, é hora de regressar novamente à redacção para preparar as notícias da tarde. Todos os jornalistas preparam as suas peças e eu edito.

Pelas 17 horas, as notícias estão prontas e são enviadas às sete rádios. Depois coloco na página da internet (www.sudancatholicradio.net). E o dia de trabalho está concluído. Regresso então a casa, onde ocupo o tempo a ler e na internet (quando é possível, pois a internet no Sudão é muito, muito lenta). Às 19 horas, rezamos as Vésperas e às 19:30, temos o jantar. Vejo um pouco de televisão, nomeadamente as notícias e pelas 21:00 é hora de mais um pouco de leitura e de descansar.


SDMViver a missão traz alguma compensação? Sente-se realizado como missionário?

Viver a Missão é, sobretudo, uma experiência nova. A vida que vivo em África, é muito mais saudável e natural que na Europa. Tenho o essencial! Só me faz falta o que tenho e isso chega! Reencontrei a beleza de uma noite de luar ou o céu cor de chumbo salpicado de estrelas. O Evangelho que anuncio é também boa nova para mim, e de uma maneira especial, Deus faz-se muito próximo através das pessoas e do contacto com a natureza. Reaprende-se a prestar atenção aos pequenos detalhes que dão sabor á vida: um pássaro a voar, uma abelha a colher o néctar de uma orquídea selvagem, uma flor minúscula a espreitar por entre a pujança da erva verde…

A essência da Missão é Jesus, por isso é sempre compensador. É uma experiência humana muito forte!

Como Missionário sinto-me 100% realizado! Ser intermediário do Amor é fantástico!


SDMÉ Missionário Comboniano. Como conheceu Daniel Comboni e a marca missionária que ele deixou como testemunho e testamento aos seus seguidores?

O primeiro contacto que tive com Comboni foi na infância, através de uma banda desenhada. Depois, mais tarde, os Combonianos foram à minha escola e propuseram-me fazer um estágio de três semanas no seminário de Famalicão e eu fui. E foi nesse estágio que se iniciou a minha caminhada. Fui admitido e a partir daí segui o itinerário: Maia, Coimbra, Famalicão; Regressei a Coimbra, onde estudei filosofia. Seguiu-se o noviciado em Santarém. Fiz os Primeiros Votos em 1981. Seguidamente fui para Londres, estudar teologia. Quando regressei em 1985 comecei a trabalhar na Audácia (http://www.audacia.org/) e em 1986 fiz os Votos Perpétuos e fui ordenado Diácono. No ano seguinte – 1987 – fui ordenado Padre. Parti para a Etiópia, a minha primeira Missão, em 1993, onde estive até Setembro de 2000. Seguiram-se nove meses de formação no México. Regressei a Portugal em 2001 onde trabalhei na Revista Audácia e depois na revista Além Mar (http://www.alem-mar.org/). Parti, de novo, para Missão em Dezembro de 2006, para Juba, Sul do Sudão, onde me encontro.


SDMEm que se distingue o seu carisma de outras Congregações Missionárias?

O meu carisma, como Comboniano, seguindo o carisma do nosso fundador Daniel Comboni, é fundado neste grande amor por África e pelos “mais pobres e abandonados do mundo”. O carisma baseia-se muito na 1ª Evangelização dos povos, de África e de todos os outros continentes. Há comunidades Combonianas nos quatro continentes. Não estamos presentes, apenas, na Oceania.


SDMComo foi a sua passagem pelo Retaxo?

Eu gostei de passar pelo Retaxo e de participar na celebração da festa em honra de Nossa Senhora de Belém. Foi uma experiência muito linda, as pessoas são muito simpáticas e acolhedoras. A Eucaristia e a Procissão correram muito bem!

Agradecemos ao P.e Zé Vieira a sua disponibilidade e a sua amizade e unimo-nos a ele na Oração e na Missão!Podem acompanhar o P.e Zé Vieira, no seu blog – AQUI



O meu sentir

“Tendes alguma coisa para comer?” Jo 21,5

Esta é uma passagem do Evangelho de S. João inserida no contexto da pesca milagrosa junto ao mar de Tiberíades, na qual Jesus aparece aos discípulos cansados e desanimados por não terem conseguido pescar nada.

Na minha vida, por diversas vezes pude experimentar este sentimento de angústia, cansaço e, não poucas vezes, algum desânimo face aos desafios e barreiras que precisei ultrapassar até chegar ao homem que hoje sou.
Com a graça de Deus, por minha vontade e por sentir ser este o plano de amor que Ele tem para mim, irei receber, pelas mãos do nosso Bispo D. Antonino Dias, a Sagrada Ordem do Diaconado, no dia 01 de Agosto em Alcains.
O Diácono tem como missão ajudar na liturgia, na assistência aos pobres e na direcção da comunidade. Ele é ordenado para o ministério, não para o Sacerdócio, ou seja, é ordenado para a ajuda do dia-a-dia na missão apostólica, em comunhão com o Bispo.
A Igreja que sinto e que amo pede-me, nesta etapa, que leve a cabo estas funções e é com a maior das confianças que lhe digo sim. Sim porque vale a pena! Sim porque vou ser feliz! Sim porque a proposta de Deus é irrecusável! Sim porque Deus não propõe a infelicidade! Sim porque, perante isto, não sou capaz nem quero dizer não!

O meu nome é Gilberto Fernandes e gosto de ser quem sou.
Peço a Deus sempre me confirme na Sua fé e nunca me falte no desejo de cumprimento da Sua vontade. Assim eu saiba sempre ser humilde para pedir-Lhe luz e conselho


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O AMOR É INVENTIVO ATÉ AO INFINITO
(S. Vicente de Paulo)

O P. Carlos César Mendes, nasceu em Fervença - Celorico de Bastos. È sacerdote Vicentino. Esteve em Moçambique, em Santiago do Cacém, em Santarém e Abrantes, como capelão militar e, desde há 2 anos, faz parte da Equipa Sacerdotal Vicentina de Ponte de Sor. No início de Setembro foi até Paris, enviado pela Congregação da Missão, para fazer um tempo de formação. Celebrando os 350 anos da morte de S. Vicente de Paulo e estando ele nas fontes, o Secretariado das Missões, e que é membro, desafiou-o a falar de si, da congregação e do Santo fundador.

SDM - P. César, és padre vicentino, membro do Secretariado Diocesano das Missões e estás na Casa Mãe da Congregação da Missão a fazer um tempo de formação. O que significa para ti estar nessa casa, neste momento, nesta formação?

A Congregação da Missão nasceu aqui, em Paris. E conta já com quase quatro séculos de história. Por isso, vir a esta casa e a esta terra é, realmente, vir às origens, à fonte. É uma oportunidade única para conhecer melhor a riqueza de um património cultural e espiritual que nos foi deixado por S. Vicente de Paulo, Santa Luísa de Marillac e tantos outros que, ao longo destes 385 anos o souberam preservar e passar às gerações seguintes.
Mas esta casa é também a confluência de várias culturas e línguas. Por aqui passam, quase todos os dias, missionários de todas as partes do mundo. Neste curso que estou a frequentar, por exemplo, os 13 participantes vêm de vários países: China, Índia, Quénia, Etiópia, Estados Unidos da América, Panamá, Colômbia, Filipinas, Indonésia, Madagáscar, Espanha e Portugal. É claro que, com tanta diversidade cultural e linguística, a comunicação é difícil. Mas, pouco a pouco, essas barreiras vão sendo ultrapassadas.

SDM - Como sentes, a partir da tua experiência e da experiência dos colegas deste curso, a actualidade do carisma de Vicente de Paulo?

Um dos aspectos em que mais se tem insistido nestas primeiras semanas do curso é a dimensão missionária da Congregação. Não é uma Congregação da caridade ou Congregação de outra coisa qualquer. É a Congregação da Missão. São Vicente poderia ter pensado numa Congregação com outro estilo, mas optou por este: ser missionários. Mas com um carisma próprio. Por isso quis que o fim da Congregação fosse “seguir a Jesus Cristo evangelizador dos pobres.” É uma forma muito particular de estar ao lado dos pobres, porque Jesus não os evangelizou apenas, mas serviu-os também. Com o correr dos anos, corremos o risco de esquecer este aspecto evangelizador, ao assumirmos tantas tarefas ou ministérios. É importante tomar consciência de que somos missionários. Por isso, hoje, a nossa missão continuará bem actual se formos capazes de perceber os sinais e formos audazes nas respostas aos desafios que vão surgindo.

SDM - Qual o programa e a temática do CIF? O que é o CIF?

O CIF (Centro Internacional de Formação) é um tempo de formação permanente, de reciclagem para os membros da Congregação da Missão. Mas está aberto a outras congregações que partilham do nosso carisma. Nesta sessão, por exemplo, isso está a acontecer. Já S. Vicente de Paulo, na primeira Assembleia-geral, em 1642, pedia que os missionários tivessem em conta um período de formação permanente, “para bem da pessoa e a necessidade da Companhia.” Provavelmente, devido a vários factores, esta formação, ao longo de mais de 300 anos, não teve uma organização como tem actualmente. Só em 1992, na Assembleia-geral da CM, ficou bem assente a necessidade de responder, de forma mais estruturada, ao apelo de S. Vicente. Assim, o objectivo geral do programa é proporcionar uma formação vicentina mais integral. Estudamos, mais a fundo, a vida do fundador, a história da CM, a espiritualidade, a acção apostólica, a vida comunitária, entre outras matérias. Pretende-se, também, que haja uma maior aproximação entre as diversas províncias espalhadas pelo mundo, sobretudo na partilha de experiências pastorais que cada uma vai levando a cabo. Ao mesmo tempo, temos a oportunidade de conhecer e percorrer alguns lugares vicentinos, não só em Paris, mas um pouco por toda a França. E este é o motivo principal por que o CIF tem sede em Paris.


SDM - No século XVII, Vicente de Paulo deixou uma obra marcante. Quais as áreas de maior intervenção?

S. Vicente era um homem muito organizado e prático. E tinha uma espiritualidade muito particular. Deixou-nos bem claro que não somos monges, que a nossa missão não é estar fechados num convento ou num mosteiro, mas ir ao encontro das pessoas, sobretudo dos mais pobres. E essa foi a sua “imagem de marca.” Os tempos eram difíceis, havia muita pobreza, o clero estava acumulado nas grandes cidades (havia cerca de cem mil sacerdotes em França) e a formação que tinham deixava muito a desejar. Para não falarmos na maneira como eram aceites ao sacerdócio ou como eram nomeados para esta ou aquela paróquia… O pobre povo do campo, para além das dificuldades materiais, estava também muito abandonado no aspecto religioso e espiritual. E foram estes os grandes motivos que moveram S. Vicente, organizando a caridade, incrementando as missões populares e contribuindo para a formação do clero, através de retiros espirituais, conferências e outras acções que ele considerava imprescindíveis para o bom desempenho do ministério pastoral. Foram estas as áreas de maior destaque na acção de S. Vicente.


SDM - “Caridade e Missão” foi o tema escolhido para assinalar o 350ª aniversário da morte de S. Vicente de Paulo e de Santa Luísa de Marillac. “O pobre povo do campo morre de fome e condena-se!” disse Vicente de Paulo. Como nasceram as Missões Populares?

Como disse atrás, o povo do campo estava muito abandonado espiritualmente. E houve um acontecimento que foi decisivo para S. Vicente, quando tinha 36 ou 37 anos. Ele estava muito ligado a uma família rica (De Gondi). E poderíamos dizer que, com esta família e com o apoio que dela recebia, S. Vicente estava “nas sete quintas”, ou seja, não lhe faltava nada. Mas, certo dia, foi a uma terra, Folleville, onde essa família tinha um castelo, um pouco distante de Paris. E chamaram-no para confessar um senhor que estava muito doente. Através desta confissão, o Padre Vicente descobriu a triste situação moral e espiritual do pobre povo do campo. Então, iluminado por Deus e incentivado pela senhora De Gondi, fez, na igreja de Folleville, um sermão sobre a necessidade da confissão geral, no dia 25 de Janeiro de 1617. O impacto desse sermão foi enorme. Creio que poderíamos dizer que, nesse dia, S. Vicente teve uma inspiração divina que viria a marcar toda a sua vida e que é a origem da Congregação da Missão. Na realidade, esse não é o dia da fundação da Congregação, mas foi aí que se deu a grande descoberta da vocação de S. Vicente: evangelizar os pobres do campo. E, desde então, iniciou-se um ciclo de missões populares que se foi alastrando por toda a França e, depois, por todo o mundo. No final de cada missão, S. Vicente fundava uma Associação de Caridade. Assim, eram socorridos os pobres e os doentes. Esta era a marca principal das missões de populares, diferenciando-as de outras que se realizavam na época.

SDM - Sendo as Missões Populares uma novidade pastoral para esse tempo, será que hoje elas têm o mesmo valor e importância? No âmbito das prioridades da Congregação elas têm um peso significativo?

Eram novidade pastoral na forma como eram feitas… Hoje continua a ser uma prioridade da Congregação. O problema que se levanta, muitas vezes, é o modo como se estão a fazer as missões populares. Os tempos que vivemos, há muito que deixaram de ser de Cristandade. Pelos testemunhos que vou ouvindo, em outros países a dificuldade é parecida. Não quer dizer que o que se está a fazer esteja mal. O problema é que, muitas vezes, os destinatários da missão são (quase só) aqueles que dela não têm tanta necessidade. Faz falta reinventar ou redescobrir caminhos que estejam mais de acordo com os tempos que estamos a viver.



SDM - Estamos a preparar a 2ª Jornada Missionária Diocesana. O tema é: Missão: Caridade e Partilha”. Queres deixar alguma mensagem para os participantes?

Em 2009 a experiência da Jornada Missionária Diocesana foi muito positiva. E este ano será também se as comunidades cristãs quiserem e aderirem. Ser Igreja e ser missionário são duas realidades que têm de andar juntas. Não podemos deixar que esta dimensão eclesial fique adormecida. A Missão não pode depender apenas desta ou daquela congregação, deste ou daquele grupo missionário. É tarefa e desafio para todos os cristãos. Uma Jornada é sempre um momento precioso para este despertar missionário e para um compromisso mais forte com a Igreja. Que o esforço e empenho com que tem vindo a ser preparado este dia, seja recompensado com os frutos que daí possam surgir. Boa Jornada!

SDM: Obrigado pela participação. Bom curso e bom regresso.


P. Agostinho Sousa.

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TESTEMUNHO DE UMA FAMÍLIA

O Secretariado Diocesano das Missões e das Obras Missionárias Pontifícias, nomeado por D. Antonino Dias, em 9 de Março de 2009, é formado por dois sacerdotes, P. Agostinho e P. Carlos César, por uma religiosa, Irmã Adriana, por uma jovem, a Bárbara, e por um casal, a Luísa Fernandes e o Sérgio Matos. A Luísa e o Sérgio  foram desafiados para que se dessem a conhecer como casal, como pais, como profissionais e como membros de um Secretariado Diocesano. Aceitaram o repto e dão o seu testemunho.



Somos uma família cristã, com dois filhos, temos as nossas raízes na freguesia de Mouriscas, concelho de Abrantes. Actualmente residimos na sede de concelho e a nossa paróquia é a de S. Vicente, em Abrantes.
Desde tenra idade, que os nossos pais nos foram transmitindo, à sua maneira humilde, do meio rural, a palavra de Deus, os valores de família e de sociedade e o respeito para com todos, alimentando a nossa fé e ensinando-nos a ser bons. Educaram-nos com simplicidade, com amor, com a sua presença, sempre com a preocupação em nos tornar humildes e obedientes para seguirmos o caminho do bem e percorrermos o caminho de Jesus Cristo, para sermos felizes. Fazíamos amizades, comparecendo junto dos amigos e ajudando o próximo, crescemos fazendo parte de todas as actividades da paróquia e da freguesia, dos Escuteiros, do Grupo de Etnografia e Folclore, da Banda Filarmónica, dos Grupos Desportivos, onde crescemos na amizade recíproca da comunidade e onde o lema é “faz bem e não olhes a quem “.
Hoje temos 43 e 45 anos. Temos um filho de catorze anos e uma filha de dez anos e não esquecemos os valores que aprendemos e temo-los transmitido. Pomo-los em prática no nosso dia a dia, em casa e no trabalho.
Eu, Sérgio, na vida militar, do quadro permanente do Exército, onde trabalho, tenho convivido, ao longo dos anos, com milhares de jovens e tenho sempre presente a cultura da fé, do respeito pelo próximo, da justiça, da partilha. Faço parte do conselho pastoral da minha unidade militar, e continuo a participar no associativismo, sendo presidente de uma associação de pais de Abrantes e vice-presidente de um grupo desportivo.
Eu, Luísa, como professora, sigo na senda dos valores que aprendi quando criança. Procuro apoiar todos os meus alunos, nos seus interesses e necessidades. Apoio-os nas suas dificuldades, carências sociais e afectivas, tento sempre criar soluções para os obstáculos que surgem, para que as crianças tenham as melhores condições de aprendizagem e poderem crescer numa sociedade de tolerância, partilha, entreajuda, amizade e de respeito para com todos. Nos meus tempos livres apoio as actividades associativas em que o Sérgio se envolve.
Com os nossos filhos Rafael e Filipa, preocupamo-nos com a sua educação e com o seu futuro, de modo a tornarem-se cidadãos condescendentes, responsáveis, autónomos, interventivos, justos e que tenham fé num mundo melhor e que o amor de Deus esteja sempre presente, nos seus dias e lhes traga a felicidade.
Diariamente, acompanhamos os nossos filhos nas suas actividades religiosas, sociais, afectivas, escolares e desportivas, apoiamo-los, ouvimo-los, conversamos e transmitimos-lhe os valores que nos são gratos.
No século XXI, com os avanços tecnológicos constantes, aparentemente as relações virtuais vão ganhando terreno às relações pessoais e parece ser cada vez mais difícil captar atenções, com a variedade de programas que são oferecidos aos jovens de hoje. Assim, a família tem um papel muito importante, para não deixar cair os jovens em tentações e a deixarem-se desorientar. A família tem de ensinar os jovens a equilibrar os procedimentos com os valores transmitidos porque, os mesmos, não passam de moda e, são cada vez mais o “fiel” da balança, a segurança inabalável para a solidez das suas vidas.
Nunca imaginámos vir a pertencer ao Secretariado Diocesano das Missões e Obras Pontifícias. Talvez o rumo que temos seguido na nossa vida fez com que surgisse o apelo, para fazermos parte do mesmo, o que nos deixou honrados pelo convite, que nos foi feito pelo Padre Carlos César.
Podermos colaborar nas actividades de divulgação do SDMOP, em particular, na 1ª Jornada que se realizou no dia 17 de Outubro de 2009, em Abrantes e, preparar a 2ª Jornada que se irá realizar a 23 de Outubro de 2010, em Alcains, gratificam-nos porque são iniciativas que nos empenhamos com muita alegria e recordam-nos que Deus é fiel e que ficará connosco até ao fim dos tempos. Como na nossa Diocese existem, felizmente, muitos grupos missionários que levam a ajuda e a palavra de Deus, àqueles que mais precisam, faz todo o sentido que exista um secretariado que assuma este desafio de incentivar e dar a conhecer os feitos, as experiências, os projectos de todos os que vivem e querem partilhar o dinamismo e a vitalidade missionária da Igreja e que possam ainda, agitar e desinquietar todos aqueles que, tocados pela força do Espírito, se podem entregar à causa da Missão, dentro ou fora de portas.
Pelo exposto e por mais situações, fazer parte da equipa do SDMOP, dá-nos uma nova perspectiva de vida onde continuamos o gosto e a vontade de sermos úteis, acessíveis e sensíveis aos apelos e às necessidades dos outros. Sentimo-nos privilegiados, por podermos ajudar e favorecidos porque obtemos conhecimento de experiências enriquecedoras que nos são transmitidas e dão-nos a conhecer pessoas singulares, com práticas missionárias extraordinárias.
                                                                          Sérgio Matos e Luísa Fernandes


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"O mais que Deus me pede"

Padre António Valério, Sacerdote Jesuíta. Natural de Idanha-a-Nova, diocese de Portalegre-Castelo Branco; recém chegado de Roma, após conclusão dos seus estudos teológicos, aceitou o desafio de uma conversa sobre a sua vocação, os seus sonhos e a sua missão:


SDM – P. António, quem és? “O que querias ser quando fosses grande?”
Pe. António – Desde muito cedo nutri o gosto pelos estudos. Nascido numa família envolvida na paróquia, desde pequeno me envolvi também e aos nove já acolitava! Nessa altura, não pensava em ser padre, embora soubesse que os meus gostariam, sem nunca me pressionarem, claro!
SDM – Como nasceu e cresceu, em ti, a vocação de ser padre e padre da Companhia de Jesus (Jesuíta)?
Pe. António - Comecei então a equacionar a hipótese de ser padre por volta dos treze anos, e foi aos quinze que entrei para o Seminário de Portalegre. Recordo o dia que o meu pai me foi lá deixar e as suas palavras… “Estás aqui até quereres…Quando não quiseres, dizes, que eu venho buscar-te.” Mas, eu quis ficar. De Portalegre passei para Leiria. Foram anos de muitas dúvidas e de uma grande certeza…havia em mim algo, que Deus me pedia, mas eu sozinho não conseguiria descobrir o que era. E foi através do director espiritual que apareceu a “luz” que talvez me faltasse na altura… “a tua vocação poderá não passar por ser padre diocesano…Já alguma vez pensaste numa ordem religiosa?” De facto nunca tinha pensado… E foi durante o ano propedêutico que encontrei o que procurava. Houve um retiro de uma semana que foi orientado por um padre Jesuíta, e foi aí que o meu futuro e a missão que Deus queria de mim se começaram a desenhar mais nitidamente. Seguiram-se seis meses de discernimento e em Setembro de 1997 entrei para o noviciado da Companhia de Jesus em Coimbra.

SDM – Qual a missão e carisma dos Jesuítas? Onde estão no nosso País?
Pe. António – Os Jesuítas estão ao serviço do povo cristão na defesa e promoção da fé. Vivem em comunidades de padres e irmãos. Dedicam-se ao trabalho social nas zonas mais problemáticas da sociedade e estão presentes também em “terras de missão”.
Dedicados desde muito cedo à educação, os seus colégios são ainda hoje uma importantíssima área de intervenção  para a Companhia de Jesus. Os centros académicos nas cidades universitárias, são também um pólo muito importante e gerador de muitas vocações.
No nosso país os Jesuítas estão no Porto, Braga, Coimbra, Lisboa, Sul do Tejo (Pragal), Algarve, Évora, tendo também uma paróquia na Covilhã.
SDM – O que te ocupa, neste momento?
Pe. António - Regressei há dias a Portugal, depois de concluir os meus estudos teológicos em Roma.
Estou agora numa fase de preparação para a nova missão… Regresso à cidade de Braga, onde estudei por quatro anos Filosofia e Humanidades e irei viver na mesma comunidade em que estive, a Comunidade Pedro Arrupe, com os jovens jesuítas que estudam Filosofia. E irei dividir o meu apostolado em dois campos:
Peregrinação Santiago-Finisterra, 2007
Vou começar a trabalhar no Apostolado da Oração, que é uma obra levada pela Companhia de Jesus e que tem uma grande tradição em muitas paróquias e grupos espalhados pelo país. Para além da Editorial e da publicação de várias revistas, o Apostolado da Oração tem como principal missão dar instrumentos a todos aqueles que queiram aprofundar a sua relação com Deus, através da oração, e de crescer no seu compromisso com a Igreja. A minha presença nesta obra será a de colaborar com aquilo que já se faz e ir descobrindo e aprofundando novos modos de comunicar a experiência de Deus às pessoas, mais novas e menos novas, que o desejam. Nesta linha, o Apostolado da Oração lançou esta Quaresma o ‘Passo-a-rezar’, um verdadeiro sucesso no modo de usar as novas tecnologias para proporcionar momentos de oração.


A outra parte da minha missão é ser Director do CAB (Centro Académico de Braga), um dos quatro centros universitários que os jesuítas têm em Portugal. Este centro é um lugar que acolhe os universitários que queiram vir, e que propõe uma série de actividades, adaptadas ao mundo universitário. Estas actividades ajudam a crescer e viver a fé de forma mais esclarecida e ter também uma visão do mundo e da sociedade que leve a um compromisso maior e segundo os valores cristãos. Serei ajudado por alguns companheiros jesuítas e um grupo de universitários. As actividades vão desde grupos de reflexão, oração e partilha, a voluntariado, peregrinações, viagens, debates, etc. Sobretudo, o que mais toca os universitários é a experiência de partilhar a mesma fé, que ajude a orientar o rumo da própria vida, para além dos profundos laços de amizade que se criam.
SDM - Um ano após a ordenação sacerdotal, os sonhos, a missão, a realidade de ser padre para os outros, como sentiste tudo isso?
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Pe. António – Tenho apenas duas palavras que poderiam resumir de alguma forma o que senti no dia da minha ordenação: Apresentado e Abraçado.
Apresentado na celebração da minha ordenação, onde me dispus diante de Deus para o que for, onde me sinto receber uma graça que não consigo tomar conta por mim mesmo, a não ser pelo extraordinário Poder que me é dado de ser Padre. Sinto-me herdeiro de uma promessa e uma bênção, um Bem feito de mim para os outros.
Abraçado Uma experiência de ser acolhido na alegria e na simplicidade e não poder fazer mais nada do que dar-me conta que este é o meu novo lugar.
No meu caso, fui ordenado no quarto ano dos meus estudos teológicos, tendo terminado este ano o quinto e último. Por isso, em parte, a minha vida decorreu o curso normal de um estudante, embora com algumas mudanças. Como padre participei no trabalho pastoral, como, Celebração das Eucaristias na comunidade, e também na Igreja do Gesù, confissões. A partir de agora, é que é a valer. Acolhi com imensa alegria a minha 1ª missão, o meu sonho de fazer várias coisas, de me entregar ao serviço pelos outros, em qualquer sítio do mundo. E a alegria de comunicar a Fé em Jesus Cristo nos dias de hoje, bem como desafio de o fazer de novos modos aos jovens e menos jovens.
SDM – És feliz por ser padre?
Pe. António – Sim, muito feliz, por “ser o MAIS que Deus me pede”!
Restou-nos agradecer ao Padre António Valério, a disponibilidade, a amabilidade e o seu coração aberto, sinais de Cristo para os outros! E desejar um tempo cheio de Graças e Frutos para o Caminho e Missão do Padre António!
Falar com o Padre António Valério foi um privilégio. Todos os  interessados em conhecer melhor este sacerdote, podem descobrir a sua missão e testemunho em  - Cidade Eterna -




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“Ser Hospitaleiro é … DAR-SE”






SDM – Ir. Fernanda, diga-nos quem é e como fez caminho para descobrir a sua vocação?
Sou Fernanda Esteves, natural de Ponte de Sor, e Irmã Hospitaleira do Sagrado Coração de Jesus. Conheci as Irmãs Hospitaleiras em Julho de 1988, num campo de férias – uma das actividades juvenis que a Congregação realiza. Tomei conhecimento desta actividade por outras jovens da Paróquia que já tinham participado e achei interessante dedicar 10 dias de serviço a doentes mentais. Fui, estive, gostei e passados nove meses voltei, para entrar na congregação. Embora já tivesse contacto com algumas religiosas, o contacto com as Irmãs Hospitaleiras, foi algo que tocou muito forte. O seu estilo de vida na missão e no seu carisma, tocaram-me profundamente. Este jeito diferente de dizer Jesus Cristo á humanidade, sobretudo, aqueles que servem e cuidam em hospitalidade. Pareceu-me ser um projecto de vida aliciante e que tinha a ver comigo.
Não posso dizer que a minha vocação nasceu neste momento, pois sinto que esta foi crescendo comigo, com todo o ambiente envolvente. O campo de férias foi a revelação das muitas expressões de Deus na minha vida. A pessoa de Jesus Cristo foi Alguém que sempre me disse muito. Alguém muito, muito importante para mim. O ambiente familiar contribuiu para esta minha opção, na forma como me educaram, segundo os valores cristãos. Também a participação activa nalgumas actividades da Paróquia contribuiu e muito: a catequese e o grupo coral (na altura não havia muito mais). O P.e Luis Marques e o P.e Agostinho Gonçalves Dias foram pessoas de referência na altura, bem como as Irmãs que estavam no Lar N. Srª do Amparo. As suas palavras, os seus testemunhos foram marcando. Bem como outras pessoas da vida da paróquia que me marcaram pela sua atitude de serviço gratuito. Numa palavra diria que a vivência e experiência na paróquia contribuíram em muito para a minha opção.
2- SDM – Ponte de Sor, não tem sido terreno fértil de vocações. Sentiu e sente a aceitação das pessoas quando se decide partir para este estilo de vida, para esta aventura de entregar a vida toda?
Apesar de não ser um terreno fértil de vocações, é uma comunidade próxima, sensível, que está presente. Em momento algum senti falta de apoio por parte da comunidade. Foram bastante atentos e nalguns momentos muito encorajadores, pois a decisão e o caminho não foi de todo fácil. Recordo de uma forma especial e com muita ternura o apoio que os adolescentes, a quem dava catequese, me apoiaram quando perceberam o motivo pelo qual tinha deixado de dar catequese e tinha partido de Ponte de Sor. Escreveram-me uma carta na qual diziam o quanto rezavam por mim e “que torciam muito para que fosse feliz”. Descrevo este caso para dizer que apesar de não haver muita decisão por parte dos jovens da terra para o serviço a Deus na Sua Igreja há sensibilidade e atenção. (Talvez seja preciso estar mais com eles, propor, …Julgo que não cabe apenas aos jovens arriscar, temos que saber arriscar com eles e apostar neles). Apesar de, neste momento, não ter muito contacto com a Paróquia, pois apenas o faço quando vou de férias, sinto-me acolhida.
3- SDM – Na nossa Diocese não existe a Congregação a que pertence. Diga-nos que Congregação é, qual a sua missão (a quem se dedica) e onde está implantada?
Pertenço à Congregação das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus (IHSCJ): A nossa missão é, predominantemente, a promoção, prevenção, cura e reabilitação de doentes no foro da Saúde Mental e Psiquiatria. Temos 12 estabelecimentos de saúde, na área da Saúde Mental e Psiquiatria, situados no Continente (Idanha, Belas/Sintra, Lisboa, Parede, Condeixa, Braga, Assumar (Portalegre), Guarda, Regiões Autónomas da Madeira (S. Gonçalo e S. Roque) e Açores (S. Miguel e Terceira). Estamos também em Moçambique com dois centros e uma comunidade em Angola que presta também apoio a doentes do foro da Saúde Mental e Psiquiatria. Desenvolvemos um modelo assistencial que assenta na concepção humana-cristã da pessoa, na sua unidade e dignidade invioláveis sendo este o centro da nossa missão hospitaleira.
No nosso estilo próprio de cuidar temos como objectivo uma assistência de qualidade que promova a saúde integral da pessoa, englobando todas as suas dimensões: física, psíquica, social, espiritual e religiosa. Procuramos articular ciência e humanidade, num profundo respeito pelos direitos fundamentais da pessoa. A actividade assistencial desenvolvida pelos nossos estabelecimentos de saúde realiza-se nas seguintes áreas: psiquiatria, gerontopsiquiatria, psicogeriatria, psicopedagogia, deficiência mental, reabilitação psicossocial e cuidados paliativos.
Atentas e abertas a outros problemas da sociedade como a toxicodependência, criámos uma Unidade de desabituação em 1992; e em 2006, uma unidade de cuidados paliativos, também uma vertente muito necessária na actualidade da nossa sociedade.
4- SDM – Uma Congregação como a sua, tem muitas vocações? O que diria a uma jovem de Ponte de Sor ou de outra terra se quisesse participar num tempo de busca e procura?
Falando em questão de vocações, sabemos que neste momento da nossa história social e eclesial é algo que deixa muito a desejar. Considero que é uma missão actual e que há ainda alguns jovens disponíveis e atentos à voz interior do coração no qual Jesus Cristo lhes fala e se lhes revela. Após o contacto com a missão, através da actividades juvenis que realizamos a pensar nos jovens e na forma de lhes falarmos de uma realidade diferente – o mundo hospitaleiro – há jovens que fazem a sua opção pela hospitalidade na vocação de consagração.
Não é fácil “aconselhar”, sobretudo, quando se trata de uma opção que implica a vida, a felicidade que todos procuramos. Partindo da minha experiência de vida, julgo importante olharmos mais longe, isto é, temos que alargar o horizonte e perceber que a felicidade está também e sobretudo naquilo que nos transcende, o que nos habita a cada momento e que, em tantas situações, nos fechamos para não sentir… a disposição a percorrer caminhos diferentes, remar contra a maré, isto é, assumir que é possível ser-se feliz mesmo sendo uma minoria, mesmo não sendo atendido desde logo; que o imediato, o material, o sucesso, a grandeza não são o essencial de uma vida feliz. É preciso sabermos passar o nosso projecto de vida, os nossos sonhos pelo coração, pela razão e pela oração. Para um cristão uma opção de vida deve ser muito rezada, para que a mente e o coração sintonizem e gerem comunhão interior, felicidade. Arriscando que este tipo de caminho tem poucos transeuntes e dá-nos a sensação de estarmos sós… é o preço da felicidade.
5- SDM – Está no Funchal. Quais as comunidades em que trabalhou e, presentemente, qual o seu trabalho concreto?
Quando entrei para a Congregação, em Abril de 1989 fui para a Idanha, Belas (Queluz), onde fiz o tempo de postulantado – o tempo em que de mais perto se tem contacto com a missão e durante o qual temos alguma formação humana, espiritual, eclesial, congregacional e de como estar e actuar na nossa missão. Uns meses depois fui para Braga com mais 8 colegas onde durante 2 anos aprofundámos a formação em todos os níveis, sobretudo a nível congregacional e eclesial; após a primeira profissão – 29 de Setembro de 1991, regressei à Idanha onde vivi a etapa do Juniorado. Durante 5 anos fomos chamadas a conhecer mais e mais a Congregação e a dar-nos a conhecer, neste período de tempo estive 3 meses em Ciempuzuelos (Madrid) onde temos a nossa Casa Mãe (a casa fundadora, onde há 129 anos a Congregação começou, fundada por S. Bento Menni – OH, por Mª Josefa Récio e por Mª Angustias Gimenez. Fiz os votos perpétuos na Idanha, a 01 de Setembro de 1996, continuei na Idanha e, em Dezembro de 2004, vim para o Funchal, onde me encontro até agora.
Desde o início, sempre estive em contacto e ao serviço das Senhoras que são e ou estão internadas nos nossos centros, fui também estudando e fiz a licenciatura em Ciências Religiosas na Universidade Católica de Lisboa. Hoje, na Casa de Saúde Câmara Pestana sou Assistente Espiritual da Casa e responsável pelo Serviço de Pastoral da Saúde; também Coordenadora do Voluntariado e Delegada de Pastoral Juvenil, faço também parte do Secretariado Diocesano de Pastoral da Saúde da Diocese da Madeira, entre outras pequenas coisas e funções que desenvolvo diariamente junto das utentes desta casa onde trabalho.
6- SDM – Sabemos que a Juventude Hospitaleira tem muitas acções e que acompanha bastante esses momentos. Que tipo de encontros? Quem pode participar? Que dinâmicas são usadas nessas acções?
A Juventude Hospitaleira (JH) nasceu em 1988, criada pelas Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus e dos Irmãos de S. João de Deus, com o objectivo de levar aos jovens o mundo da hospitalidade. Realizamos algumas actividades como: Campos de Férias (10 dias de serviço às pessoas com doença e ou deficiência mental, neste tempo aos jovens é proporcionado um tempo de formação humana, social, espiritual e religiosa, é proposto também tempo de oração e reflexão, nestes dez dias os jovens tem ainda a oportunidade de fazer novas amizades e algum tempo também para a diversão; Fins de semana (3 a 4 dias) também serviço, formação e reflexão (actividades de continuidade aos jovens que já participaram em campo de férias, ainda que haja sempre alguns que ainda não tenham feito campo de férias), Carnavais Hospitaleiros, Páscoas Hospitaleiras e Natais Hospitaleiros, como os nomes indicam neste tempo (4 a 5 dias) procurámos viver e reflectir o tempo forte apresentado pela Igreja em chave hospitaleira; Retiros (3 a 4dias) tempo de oração e reflexão; Campos Missionários, Acampamentos, R’Hospitalidades, Cursos de Formação sobre oração, Saúde Mental, Bíblia, Hospitalidade, Eneagrama, e muitos outros temas. Os temas de formação são de acordo com a zona, a Casa que propõe os temas, procuramos ir ao encontro das necessidades dos jovens que vão passando pelas diferentes actividades. No site da JH: www.juventudehospitaleira.org pode encontrar-se mais informações sobre as actividades que realizamos. Podem participar jovens a partir dos 14 anos.
Trabalhamos também com alguns grupos que vão de paróquias, de outros movimentos que nos pedem alguns dias (fins de semana) para que os seus jovens conheçam a hospitalidade, o mundo da pessoa com sofrimento psíquico; há também paróquias que nos podem para nos deslocarmos até aos jovens e apresentarmos as nossas actividades e propostas, o que fazemos também com alguma regularidade. Gostaríamos até poder ir e estar mais, isto é: gostaríamos de ter mais convites.
7- SDM – Nos dias de hoje, ser “hospitaleiro”, é um desafio ou uma necessidade?

Nos dias de hoje ser com convicção é, sem dúvida, um desafio muito grande e com algum risco. Ser hospitaleiro podemos vê-lo como um desafio e ou como uma necessidade. Desafio porque vivemos um tempo e num espaço em que só o que dá lucro económico, sucesso e sem muito trabalho é que é “altamente” (como dizem os jovens e como muitos dos seus pais pensam e desejam para os seus filhos); uma necessidade porque a humanidade continua hoje, como ontem, com muita lacuna, muita carência e muita necessidade. O importante para mim é que alguns de nós nos demos conta da urgência de sermos hospitaleiros uns com os outros, sobretudo como os mais pobres; urge que na sociedade e na Igreja, acima de tudo surjam corações e mentes generosas sem medo de se darem e sem medo de não fazerem muita riqueza com os seus serviços gratuitos e disponíveis.

Para mim é importante que a sociedade e a Igreja olhe o mundo a partir do próprio Jesus Cristo – a tempo inteiro e de todo o coração. O que é Ser cristão se não identificar-se com Cristo, assumir na sua vida as Suas atitudes e as Suas acções. Deixo o desafio a quantos lerem estes linhas. Dá-te, sem medo, sem mas, sem reticências. Vem e vê. O mundo e a sociedade precisam de TI. Cristo conta contigo. Ser Hospitaleiro é … DAR-SE.
P. Agostinho Sousa