Jornadas do Clero, Mem Soares 24 e 25. Janeiro. 2011
SINODALIDADE É COMUNHÃO
Decorrem nos próximos dias 24 e 25 de Janeiro as Jornadas do Clero, momento e ocasião da reunião de todo o Clero da nossa Diocese. Este ano, e no horizonte da preparação e vivência próximas do Sínodo diocesano, o tema é precisamente a “Sinodalidade da Igreja”.
Dizer “sinodalidade da Igreja” é quase uma redundância já que “sinodalidade” é uma das formas de dizer “comunhão” e a Igreja, na sua origem e na sua realização plena, é instrumento e experiência de comunhão.
E se quisermos reflectir as estruturas eclesiais, quaisquer que elas sejam, a nível paroquial e / ou diocesano, teremos sempre de partir da perspectiva da Igreja como comunhão. O Concílio Vaticano II, precisamente no seu documento sobre a Igreja (Lumen Gentium), definiu a Igreja como “Povo de Deus”. E diz o Concílio que Cristo é a Luz dos Povos, mas que a Igreja é como que o sacramento ou sinal e instrumento da íntima união com Deus e na unidade de todo o género humano (cf. LG 1).
Se Cristo é a Luz, e se a Igreja é Sacramento, sinal e instrumento dessa Luz (Plano de Salvação de Deus para toda a humanidade), então a Igreja serve-O, exprime-O, contém-n’O e torna-O presente. Significa que a Igreja é o Sacramento de Cristo para os homens e que a sacramentalidade da Igreja não é uma propriedade autónoma da Igreja mas sim uma qualidade da participação no próprio mistério de Cristo, “Luz dos povos”.
Como afirma o Concílo Vaticano II ( LG 4; UR 2), esta comunhão tem como modelo e princípio a “unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo. É uma comunhão que não se reduz a uma mera vontade de partilha, mas que a implica; que não se reduz a um simples encontro de amigos ligados pela simpatia humana, mas que sem dúvida o protagoniza; que não se reduz a um estado de fusão psicológica criada por iniciativa de um grupo, mas que desafia sempre à fraternidade; uma comunhão que não é apenas da ordem do esforço e compromisso humanos, mas que é verdadeiro Dom do Senhor e exige compromisso.
A grande ajuda da sinodalidade na Igreja é a de animar e nortear a avaliação do desempenho da própria Igreja e de regular a vida diocesana. Além do vasto fenómeno da secularização e do secularismo, as vidas “diocesanas” deparam-se hoje com aquilo que podemos chamar de “associassionisno” que é diferente do positivo associativismo. Enquanto o segundo promove uma actividade conjunta, o primeiro promove apenas um grupo fechado sobre si mesmo (associações fechadas sobre si próprias nas motivações, nas actividades e nas finalidades).

SÍNODO NAS ESTRUTURAS PARA ACTIVAR UMA IGREJA
O Sínodo na Igreja é um instrumento que promove, sobretudo, uma melhor e mais adequada planificação da acção evangelizadora para uma melhor concretização da missão de toda a Igreja: consolidação do tecido organizacional; adequação da evangelização e do Clero à nova realidade social (inculturação); actualização da prática religiosa como passagem de uma piedade privada e individual a uma espiritualidade e piedade litúrgica e comunitária; revitalização do tecido eclesial em geral: repartição de tarefas, análise de contextos, motivação à participação de todos com o que lhe é específico
Necessariamente um Sínodo pretende activar a Igreja na sua compreensão e na sua experiência. Conceitos errados de Igreja não podem resultar em acções pastorais e de evangelização equilibradas e correctas (em comunhão). Uma boa ontologia proecede sempre uma boa ética e uma boa práxis. Tudo isto para que se ultrapasse o risco de “Igrejas cheias” (pelo menos em certas ocaisões) e “Paróquias vazias”.
Para os praticantes passivos, os instrumentos sinodais têm a função de re-activar a tomada de responsabilidades. Para os cristãos e movimentos religiosos têm a função de ajudar a “acertar o passo” na mesma corresponsabilidade e experiência eclesial. Uma Igreja sinodal é uma Igreja com estruturas que são respostas para o empenhamento. Onde existe vocação existe sempre missão. Se não existe missão é porque, de facto, não existe vocação.
JORNADAS DO CLERO 2011
Este ano de 2011 as nossas Jornadas decorrem apenas durante dois dias e de forma simples. Embora correndo o risco de uma exagerada e perigosa brevidade, é a correspondência directa ao pedido expresso anonimamente nas avaliações das jornadas do ano passado por uma larga maioria de 65% dos participantes.
A brevidade das Jornadas não tem de ser, no entanto, sinónimo de superficialidade. A grande força de qualquer proposta é, não só a validade da proposta, mas também a liberdade, disponibilidade e empenho de quem acolhe.
Na perspectiva da proximidade de um Sínodo que a nossa Igreja diocesana assumiu como instrumento para activar a experiência eclesial, as Jornadas deste ano tentam fornecer ingredientes para a motivação e trabalho em comunhão. Parafraseando Karl Rahner no contexto do Concílio, é o tempo de nos perguntarmos (ainda mais), não apenas o que a Igreja pode fazer por nós, mas sim, e sim e sobretudo, o que podemos nós fazer pela Igreja.

Emanuel Matos Silva