sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Sinodalidade da Igreja


Jornadas do Clero, Mem Soares 24 e 25. Janeiro. 2011


SINODALIDADE É COMUNHÃO


Decorrem nos próximos dias 24 e 25 de Janeiro as Jornadas do Clero, momento e ocasião da reunião de todo o Clero da nossa Diocese. Este ano, e no horizonte da preparação e vivência próximas do Sínodo diocesano, o tema é precisamente a “Sinodalidade da Igreja”.
Dizer “sinodalidade da Igreja” é quase uma redundância já que “sinodalidade” é uma das formas de dizer “comunhão” e a Igreja, na sua origem e na sua realização plena, é instrumento e experiência de comunhão.
E se quisermos reflectir as estruturas eclesiais, quaisquer que elas sejam, a nível paroquial e / ou diocesano, teremos sempre de partir da perspectiva da Igreja como comunhão. O Concílio Vaticano II, precisamente no seu documento sobre a Igreja (Lumen Gentium), definiu a Igreja como “Povo de Deus”. E diz o Concílio que Cristo é a Luz dos Povos, mas que a Igreja é como que o sacramento ou sinal e instrumento da íntima união com Deus e na unidade de todo o género humano (cf. LG 1).
Se Cristo é a Luz, e se a Igreja é Sacramento, sinal e instrumento dessa Luz (Plano de Salvação de Deus para toda a humanidade), então a Igreja serve-O, exprime-O, contém-n’O e torna-O presente. Significa que a Igreja é o Sacramento de Cristo para os homens e que a sacramentalidade da Igreja não é uma propriedade autónoma da Igreja mas sim uma qualidade da participação no próprio mistério de Cristo, “Luz dos povos”.
Como afirma o Concílo Vaticano II ( LG 4; UR 2), esta comunhão tem como modelo e princípio a “unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo. É uma comunhão que não se reduz a uma mera vontade de partilha, mas que a implica; que não se reduz a um simples encontro de amigos ligados pela simpatia humana, mas que sem dúvida o protagoniza; que não se reduz a um estado de fusão psicológica criada por iniciativa de um grupo, mas que desafia sempre à fraternidade; uma comunhão que não é apenas da ordem do esforço e compromisso humanos, mas que é verdadeiro Dom do Senhor e exige compromisso.

SINODALIDADE E AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO
A grande ajuda da sinodalidade na Igreja é a de animar e nortear a avaliação do desempenho da própria Igreja e de regular a vida diocesana. Além do vasto fenómeno da secularização e do secularismo, as vidas “diocesanas” deparam-se hoje com aquilo que podemos chamar de “associassionisno” que é diferente do positivo associativismo. Enquanto o segundo promove uma actividade conjunta, o primeiro promove apenas um grupo fechado sobre si mesmo (associações fechadas sobre si próprias nas motivações, nas actividades e nas finalidades).
Muitas vezes estes “associassionismos” reportam a estruturas supra-diocesanas que acabam por ter mais “autoridade” sobre os cristãos do que a Igreja local a que pertencem. O risco é o do progressivo esvaziamento das comunidades e de uma relativização da corresponsabilidade eclesial com a diocese (que ao limite continua a ser quem tem a responsabilidade de fornecer instrumentos de vida cristã a todos os baptizados, incluindo os próprios Pastores).

SÍNODO NAS ESTRUTURAS PARA ACTIVAR UMA IGREJA
O Sínodo na Igreja é um instrumento que promove, sobretudo, uma melhor e mais adequada planificação da acção evangelizadora para uma melhor concretização da missão de toda a Igreja: consolidação do tecido organizacional; adequação da evangelização e do Clero à nova realidade social (inculturação); actualização da prática religiosa como passagem de uma piedade privada e individual a uma espiritualidade e piedade litúrgica e comunitária; revitalização do tecido eclesial em geral: repartição de tarefas, análise de contextos, motivação à participação de todos com o que lhe é específico
Necessariamente um Sínodo pretende activar a Igreja na sua compreensão e na sua experiência. Conceitos errados de Igreja não podem resultar em acções pastorais e de evangelização equilibradas e correctas (em comunhão). Uma boa ontologia proecede sempre uma boa ética e uma boa práxis. Tudo isto para que se ultrapasse o risco de “Igrejas cheias” (pelo menos em certas ocaisões) e “Paróquias vazias”.
Para os praticantes passivos, os instrumentos sinodais têm a função de re-activar a tomada de responsabilidades. Para os cristãos e movimentos religiosos têm a função de ajudar a “acertar o passo” na mesma corresponsabilidade e experiência eclesial. Uma Igreja sinodal é uma Igreja com estruturas que são respostas para o empenhamento. Onde existe vocação existe sempre missão. Se não existe missão é porque, de facto, não existe vocação.


JORNADAS DO CLERO 2011





Este ano de 2011 as nossas Jornadas decorrem apenas durante dois dias e de forma simples. Embora correndo o risco de uma exagerada e perigosa brevidade, é a correspondência directa ao pedido expresso anonimamente nas avaliações das jornadas do ano passado por uma larga maioria de 65% dos participantes.
A brevidade das Jornadas não tem de ser, no entanto, sinónimo de superficialidade. A grande força de qualquer proposta é, não só a validade da proposta, mas também a liberdade, disponibilidade e empenho de quem acolhe.
Na perspectiva da proximidade de um Sínodo que a nossa Igreja diocesana assumiu como instrumento para activar a experiência eclesial, as Jornadas deste ano tentam fornecer ingredientes para a motivação e trabalho em comunhão. Parafraseando Karl Rahner no contexto do Concílio, é o tempo de nos perguntarmos (ainda mais), não apenas o que a Igreja pode fazer por nós, mas sim, e sim e sobretudo, o que podemos nós fazer pela Igreja.
Ajudar-nos-ão na reflexão o Secretariado diocesano missionário (o P. Agostinho Sousa, Padre Vicentino e Pároco de Ponte de Sor em colaboração com os Padres Antunes e Tony Neves) e também o Dr. Luís Ferraz da Diocese de Leiria-Fátima e P. Doutor José Correia Vilar da Diocese de Viana do Castelo. Leiria e Viana são Dioceses que viveram há poucos anos os seus Sínodos e nos podem ajudar a motivar para o nosso. No segundo dia das Jornadas abre-se também a participação a alguns leigos que, por trabalho nas comunidades, estão empenhados e comprometidos na dinamização do Sínodo. O desafio, claro, é o da participação. Cristo e a Igreja valem bem a nossa vida!

Emanuel Matos Silva