sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Entrevista P. António Lopes, director das OMP


O P. António Lopes, natural da Aldeia da Ponte, diocese da Guarda, depois da sua formação em Portugal e da ordenação presbiteral em 1986, recebeu como destino missionário o Togo. Foi director e professor no Instituto S. Paulo e após ter feito estudos sobre a Sagrada Escritura em Paris regressou ao Togo e foi também director de um Centro Bíblico de Lomé, a capital daquele país. De regresso a Portugal integrou-se na comunidade de Tortosendo. Dali foi para Guimarães onde foi Superior durante três anos e assumiu a responsabilidade pastoral da paróquia de S. Cristóvão de Selho.
Desde a sua formação inicial colaborou e promoveu várias publicações de cariz bíblico e missionário.

Passado pouco mais de um ano da sua nomeação para o cargo de Director Nacional das Obras Missionárias Pontifícias que balanço pode fazer?
- Eu tive a sorte de entrar no "comboio das OMP" em andamento positivo graças ao bom trabalho do P. Durães, o anterior director das OMP. Praticamente eu segui o que ele já tinha delineado, e bem. Contudo houve algumas coisas novas que fomos colocando em acção. A primeira de todas foi o encontro com os directores diocesanos das OMP. Um encontro cosiderado por todos como muito positivo. Aí podemos conversar sobre as dificuldades que encontramos na maneira de pôr en acção o dinamismo missionário. Também partilhar o que fazemos e como o fazemos. Há já muita coisa boa que se vai fazendo em cada diocese. Umas estão mais avançadas outras menos. Mas o ardor que escutamos de uns e de outros em dar rosto à carta Pastoral dos bispos: "Como eu vos fiz fazei vós também" é um sinal claro de que nos sentimos empenhados na mesma Missão.
Uma segunda acção nova é o empenho que colocamos em desenvolver a Infância Missionária. Todos estamos empenhados neste serviço lindo de colocar as crianças, adolescentes e jovens em sentido missionário. De abrir os orizontes da fé para que a minha descoberta de Jesus seja partilhada com outras crianças do mundo inteiro. Para isso desenvolvemos todo um percurso em cinco anos que abrange os cinco continentes. Começámos este ano com a Ásia.
Porquê a Ásia?
- Porque é aí que se encontra a grande maioria da população que ainda nunca ouviu falar de Jesus. E se as crianças com a sua simplicidade e abertura olham para a Ásia com carinho então penso que a sua acção em favor dos outros se traduz em amor, esse mesmo amor de Jesus que a ninguém excluía mas que a todos acolhia.

Que outras acções?...
- Tivemos as Jornadas missionárias no passado dia 14 a 16 de Setembro. Tiveram um outro modelo. As pessoas, de uma maneira geral, gostaram. Disseram que foram mais leves e mais participativas da parte de todos. No dia 16, domingo, inserimo-nos nas cerimónias do Santuário, recitação do Terço na capelinha e Eucristia no recinto. O terminar as Joranadas com a Eucaristia no recineto é o primeiro passo, passinho pequenino, para uma ideia a palpitar que é a Peregrinação nacional da Missão. Não apenas para as pessoas que participam nas Jornadas, mas para todos os cristãos de todas as dioceses. Seria a nossa Peregrinação Nacional da Missão.
Como vê, estamos pouco a pouco a dar alguns passos que me parecem muito positivos.

Como vê que o “Ano da Fé” possa contribuir para o revigorar duma identidade missionária da Igreja?
- O santo Padre na carta "A porta da Fé" diz que o"Ano da Fé é convite para uma autêntica e renovada conversão ao Senhor, único Salvador do mundo". Quem se encontra verdadeiramente com Cristo, não pode ficar igual. Ele como os Magos no evangelho de Mateus, já nãopodem percorrer o mesmo caminho de antes, têm de ir por outro caminho, o de Jesus. O encontro com a Samaritana, no evangelho de Jesus é exemplo claro disso mesmo. O seu encontro com Cristo, mudou por completo a sua vida. Abandona o cântaro da vida que levava que começa a anunciar Aquele com quem se encontrou: "Vinde ver um homem que me disse tudo...", ao ponto que também os samaritanos ficam de tal maneira admirados que pedem a Jesus que fique com eles. Essa é a maneira de ser missionário: Encontro verdadeiro com Jesus, ficar com ele e depois ir levá-lo aos outros. É a dinâmica da Fé. A Fé leva necesariamente à missão, ao anúncio claro e apaixonado de Jesus.

Qual a situação geral da animação missionária em Portugal?
- Penso que ela está em "gestação" avançada, quer dizer todos: Dioceses, OMP, Institutos missionários estão a trabalhar em conjunto no anúncio da Boa Nova. Existe hoje uma grande convergência de entendimento entre os institutos religiosos missionários e as estruturas diocesanas portuguesas. Naturalmente que há ainda muito a fazer para aquilo que eu chamo de voltar a existir uma "cultura missionária" em Portugal. Fazer com que todas as pessoas estejam despertas à Missão. Missão que não é apenas celebração de  sacramentos, mas que abrange todos os sectores da vida humana. O seu desenvolvimento integral a nível religiosos, cultural, social, politico e económico. E para isso são necessáriastodas aspessoas e não apenas um grupo ou o grupo dos cristãos católicos. A "cultura missionária" deve abraçar todos os sectores, aquilo que eu chamo de pessoas de boa vontade. Pessoas que vêem neste trabalho da Missão, de dedicação ao outro, algo de importante para formar a grande família humana.

 Em particular, nas paróquias, que iniciativas se podem promover de cariz missionário?
- Dar um maior relevo às celebrações do Dia Mundial das Missões, da Infância Misionária no dia da Epifania, no Baptismo do Senhor, no Tempo Pascal, etc. Criarem na paróquia grupos de oração pela Missão.  Fazer a descoberta da Carta Pastoral "Como eu vos fiz, fazei vós também" para que a partir desse "fogo" missionário nos corações de todos se possa criar ou estabelecer com mais ardor os grupos missionários paroquiais. Os conselhos missionários diocesanos. A minha vontade era ver que cada paróquia se interessa-se pela outra que está ao seu lado e assim sucessivamente e que ninguém se fechasse na sua "capelinha".

O envio de missionários leigos tem aumentado nos últimos tempos (Portugal terá neste momento cerca de 800 missionários um pouco por todo o mundo). Que desafios e oportunidades representam para a Igreja portuguesa estes números?
- A grande oportunidade para a Igreja em Portugal é esse sentir missionário  É esse criar uma "cultura missionária". É estar abertos à novidade que aqueles que foram em missão trazem para o nosso meio um outro olhar, um outro saber, um outro sabor, de partilha de experiências e de fé. É o estar embuídos deste sentir que a descoberta que fizemos de Cristo não podemos guardá-la só para nós. Que 60% por cento da humanidade ainda desconhece Jesus Cristo, e está à espera de quem lho dê a conhecer para que em total liberdade e conhecimento possa depois optar também ele por uma adesão apaixonada deste Jesus em quem acreditamos e cremos que é a Salvação do mundo.