quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Para onde vais, Igreja? Que dizes de ti mesma?

É uma questão pertinente que muitos, cristãos e não - cristãos, se colocam com frequência. É sobre esta temática que a diocese nos convida a reflectir ao longo deste ano pastoral e na caminhada do sínodo.
É uma questão que surge das inúmeras mutações culturais e sociais do nosso tempo e do ambiente de insegurança e desorientação face ao futuro. No meio deste clima, como reagirá a Igreja, como sobreviverá, por onde caminhará? O mundo dividido, magoado, clama por uma resposta viva e actuante.
A visão que a Igreja tiver de si mesma é fundamental para determinar a sua acção evangelizadora, a sua organização pastoral. E essa visão não precisa de ser inventada, pois está já definida a partir do Evangelho. Contudo pode haver necessidade de a redescobrir e aprofundar, perante as novas situações e os novos desafios com que em cada tempo ela se depara.
A Igreja tem de se redescobrir com mistério de comunhão de Deus com os homens e dos homens entre si, e lutar contra a perda da consciência eclesial, ou seja, a perda da consciência, mesmo entre baptizados, da pertença afectiva a essa mesma Igreja.
E assim, surgem muitas visões desfocadas da Igreja e da paróquia, enquanto primeira forma visível da Igreja, visto que está mais próxima de cada um.
Encontramos a paróquia - estação de serviço, onde se vai comprar o que faz falta: baptismos, casamentos, funerais…; a paróquia - arquipélago, onde se degladiam os grupos, movimentos, confrarias, fechados cada um na sua concha, caminhando por linhas paralelas, sem espírito de comunhão e sem projecto pastoral comum que os una, e imersos em rivalidades mesquinhas, ciúmes doentios…; a paróquia – feudo, onde o pároco é o único senhor e onde se esquece a relação de comunhão pastoral com a comunidade, com as restantes paróquias, com a diocese…
Torna-se, pois, urgente renovar a consciência da dimensão espiritual da Igreja, do nosso ser igreja e da co-responsabilidade pastoral, olhando-a com os olhos da fé e do coração – porque “o essencial é invisível aos olhos, só se vê bem o coração” (Saint Éxupéry) – e redescobrindo-nos todos como membros activos dessa mesma Igreja, como pontífices (construtores de pontes) de comunhão. É que a melhor forma de se ir ao encontro dos outros e de falar de si mesma é construindo pontes e não há tarefa mais bonita que esta, a de estender pontes em direcção aos homens, para lhes levar o coração de Deus, sobretudo num mundo onde parecem crescer os construtores de muros, os cavadores de abismo.
Mas fazer pontes ou fazer de ponte, não é tarefa fácil, pois ser ponte implica fidelidade a duas margens, sem pertencer de facto a nenhuma delas, é renunciar à sua própria liberdade pessoal, promovendo a comunhão. Ou seja, constroem-se pontes quando se percebe que os outros fazem parte de nós e com eles partilhamos alegrias e intuímos sofrimentos e anseios; quando se vê, antes de mais, o que há de positivo no outro, para o acolher e valorizar como dom de Deus; quando se leva o peso do outro, como ponte resistente, connosco. Sem sair de si mesmo, sem amor, não se pode ser ponte.
Ser ponte implica também uma participação activa na vida da comunidade a que se pertence, onde se recebe e se dá, de tal modo que o bem de todos se torna o bem de cada um e o bem de cada um se torna o bem de todos. Como diz S. Gregório “cada um é o apoio dos outros e os outros são o seu apoio”.
Desta forma a visão da Igreja deixará de aparecer desfocada ou deturpada, surgindo alicerçada na participação e co-responsabilidade dos seus membros, na diversidade e complementaridade dos seus dons, funções e ministérios.
É este também o sentir do Papa Bento XVI, quando afirma aos bispos portugueses: “A palavra de ordem era e é construir caminhos de comunhão. É preciso mudar o estilo de organização da comunidade cristã e a mentalidade dos seus membros para se ter uma Igreja ao ritmo do concílio Vaticano II, na qual estejam estabelecidas a função do clero e do laicado, tendo em conta que todos somos um, desde que somos baptizados e integrados na família dos filhos de Deus e todos somos co-responsáveis pelo crescimento da Igreja.”
A Igreja deve, portanto, apresentar-se como aprendizagem para a comunhão que Deus é e oferece e para Quem todos os homens peregrinam. A comunhão, de que a Igreja deve ser sinal, está sempre além da imagem que ela dá ao mundo, mas nela se participa na comunhão de Deus. Por isso, a Igreja deverá ser sempre mais sinal da união com Deus e da unidade entre os homens.

Pe. Luís M. Alves

Todo o mundo viu a dedicação da Igreja da Sagrada Família, em Barcelona, no passado dia 7 de Novembro. Talvez nem todos saibam que a festa da dedicação da Igreja-mãe da nossa Diocese é a 6 de Maio. Estamos a falar de lugares de reunião, de comunhão, de encontro, sinais visíveis e históricos da vivência da fé do Povo de Deus.
No dia 9 de Novembro celebrou-se a Festa da Dedicação da Basílica de Latrão (Roma), que ocorreu no ano 320. É a mãe e a cabeça de todas as Igrejas. Foi a sede dos Papas durante 16 séculos e continua a ser a Igreja própria do Bispo de Roma. A Basílica de Latrão recorda e simboliza a unidade da Igreja, fundada sobre o alicerce de Cristo e a rocha de Pedro. Comemorando a dedicação desta igreja, centro da unidade do Povo de Deus, celebramos o mistério da única Igreja de Cristo. Unindo-se, neste dia, à Igreja de Roma, as Igrejas de todo o mundo reconhecem que Ela continua a manter a “presidência da comunidade” de que falava já Santo Inácio de Antioquia.
Hoje, 18 de Novembro, celebramos a dedicação de duas das mais importantes igrejas da cristandade, a Basílica de S. Pedro, onde se encontra o túmulo do apóstolo Pedro e a Basílica de S. Paulo, situada na estrada de Ostia e onde o apóstolo Paulo foi decapitado. Desde sempre foram considerados centros de peregrinação para os cristãos do mundo inteiro.

SDM