sexta-feira, 6 de maio de 2011

Em semana das Vocações... Um testemunho Missionário!

Toda a nossa vida é risco e só vive quem arrisca.




«E eles, imediatamente, deixaram as redes e seguiram-no». Mt 4,20

Olá, jovem

Aquela tarde, há 38 anos, ficou marcada para sempre na minha memória. Lembro-a como se fosse hoje. Pela primeira vez, que me lembre, ouvi falar da missão. Pela primeira vez me foi dirigido um convite grandioso, que eu nessa altura não imaginava pudesse acontecer, mas que foi possível e continua a realizar-se ainda hoje.

Certezas

Frequentemente, no contacto com os jovens, me é feita a pergunta: «Quando teve a certeza que era esta a sua vocação?» Certeza? Mas haverá certeza para o que à vocação diz respeito? Poderemos ter absolutas certezas em algo todo voltado para o presente e futuro, para a vida do dia-a-dia? Quem poderá falar de certeza para o seu dia, quando se levanta pela manhã? Toda a nossa vida é risco e só vive quem arrisca. E a vocação, porque é vida em plenitude, é risco também. Eu sou pelo risco, contra a segurança. Sou pela audácia contra o comodismo. Por isso sou padre, por isso sou missionário.

Riscos

O risco é parte substancial da condição humana. Não se pode fazer nada de sério neste mundo sem se expor, muitas vezes, ao fracasso. E a única maneira de nunca se equivocar – ou de se equivocar sempre – é renunciar a toda a aventura por pura covardia.
A obsessão pela segurança é um dos mais graves obstáculos para realizar uma vida. Não digo, claro está, de excluir a prudência, a reflexão antes da acção, o saber escolher as melhores circunstâncias para a empreender. Mas a falsa prudência que acaba por ser paralisante é insuportável. Aqueles que elegem a segurança como o maior valor da vida nunca atingirão nada de visível, de marcante. Nunca farão nada significativo na sua vida.

O risco da vocação

Por vezes, também, vêm jovens interrogar-me sobre a sua vocação e perguntam como podem estar «seguros» de que Deus os chama. A estes respondo, invariavel­mente: nunca saberás qual é a tua vocação enquanto partires do conceito de segurança, enquanto estiveres preocupado com a segurança, a certeza absoluta. Como podes ter a certeza absoluta de que é aquele rapaz, ou aquela rapariga, a pessoa certa para construíres a tua vida e por conseguinte, a tua felicidade? Como podes ter a certeza do que vais viver durante este dia que vem até ti?
Em toda a vocação, em todo o empreendimento humano, há uma componente de risco. E o que não for capaz de se arriscar um pouco por aquilo que ama, é porque não ama nada. Todas as grandes coisas são inseguras; vêem-se por entre as trevas; é necessário avançar para elas por terreno desconhecido. Por isso, toda a vocação, toda a empresa séria tem algo de aventura, de aposta. E implicam audácia e confiança.

Arriscar para viver

Não estou a fazer uma apologia nem a apostar na irreflexão, na frivolidade, no «aventureirismo» barato. Não é um risco «à toa». Muito menos estupidez, porque «sei em quem pus a minha confiança».
O que quero dizer é que todo o amor supõe um salto no escuro: a gente lança-se para aquilo que ama e está certo que esse salto não será uma loucura, porque ninguém se engana quando vai para aquilo que merece ser amado. A vida merece ser amada. E merece-o apesar de sabermos que nela haverá muitas quedas e muitos tropeços. Mas quem tiver medo de tropeçar alguma vez, não se levante da cama pela manhã. Assim evita sofrer. Porque já está morto."


Padre Leonel Claro, Missionário Comboniano 
Artigo - Além Mar