A proposta foi lançada pelo Papa em Junho deste ano, anunciando que, na véspera do primeiro Domingo do Advento, se propunha a dedicar um tempo de oração pela Vida nascente. O Papa convidou toda a Igreja, as dioceses, mas também as paróquias, as comunidades religiosas, os movimentos e grupos a unirem-se a ele nesta Vigília de Oração. Recordar as crianças que estão por nascer mas já foram concebidas tem as duas notas típicas do Advento: a esperança na vinda de Deus – de que cada criança desde o momento da concepção é um sinal – e o apelo de Deus a que todos assumam a responsabilidade de promover e defender a vida em todas as suas fases.
A Europa atravessa actualmente, como todo o mundo ocidental, uma trágica crise demográfica. Aquilo que muitos já chamam o inverno demográfico pode ter várias razões: o medo do futuro, a falta de esperança, o cansaço, o materialismo, o egoísmo, a falta de comoção perante uma vida humana, a banalização da contracepção e a liberalização do aborto, a ausência de políticas de apoio à família e à natalidade, o aumento do custo de vida. Mas é um facto que entre os católicos praticantes (e não é por estes serem mais ricos) há mais filhos do que a média. Isto mostra como muito depende da nossa confiança em Deus e da força do amor que vem de Deus e que nos leva a ser solidários e a ajudar-nos uns aos outros.
São já muitos os países da Europa que aderiram à iniciativa do Papa e se unem ao Papa não apenas para reforçar o alerta para a situação grave em que nos encontramos com falta de crianças, mas também para proclamar bem alto a esperança e a confiança em Deus. A necessidade de defender a vida humana desde a concepção é sentida hoje em todos os países da Europa e do mundo. A legislação que tende a ser cada vez mais permissiva e a deixar as crianças desprotegidas e as mães abandonadas a si mesmas é algo que, infelizmente, ainda está em fase de expansão. É estranho que na Europa se gaste mais dinheiro a fazer abortos do que a ajudar quem quer ter filhos e as instituições de apoio à vida.

Alguns políticos, mesmo dizendo-se católicos, como acontece em Portugal, têm desistido de lutar pela defesa da vida considerando irrevogável o caminho feito na liberalização do aborto e que o problema agora é a crise económica. Não se pense, no entanto, que será resolvendo a crise económica que se passará a ter mais filhos. Será, antes pelo contrário, o amor à vida e a promoção da verdadeira família que gerará mais solidariedade e confiança para mudar a situação económica.
Os cristãos, não só os católicos, mas também de outras confissões, nomeadamente os ortodoxos (alguns dos quais já aderiram à proposta de oração do Papa), embora não sejam os únicos a defender a vida, têm uma responsabilidade particular. Por um lado, têm a consciência do valor da vida nascente, e sentem o dever de promover a natalidade e a família (a começar pela sua própria), por outro lado, sabem que estão diante de uma luta que é maior do que as nossas forças e que sem a graça de Deus acabam por esmorecer.

In Ecclesia - Padre Duarte da Cunha, secretário-geral do CCEE